quinta-feira, 26 de junho de 2008

A dînâmica do abraço

Quando tudo terminou, deitei o pequeno no berço, beijei-o na fronte e saí, profundamente emocionada e agradecida, sentido, ainda, o calor daquele corpinho franzino aquecendo-me o peito...

Guiadas pela voz da coordenadora, as pessoas foram se levantando devagar e olhando para os lados. A princípio, a escolha era inevitável: ia-se ao encontro dos amigos. Depois, cada um foi abrindo os braços para quem estava mais próximo e, conhecido ou não, acolhendo-o num terno abraço...

Uns giravam lentamente para os lados, como se dançassem; outros faziam um movimento pendular com o corpo, inclinando-se várias vezes; havia os que se curvavam sobre o outro, protetores, e os que ficavam quietos, acariciando-se, como se afirmassem silenciosamente: Eu te quero bem!

Câmera em punho, eu seguia a dinâmica passo a passo, colhendo imagens, buscando detalhes com a teleobjetiva: a expressão dos olhos, os sorrisos, o toque das mãos; tudo que se poderia expressar pelo gestual, já que a determinação da facilitadora era não pronunciar qualquer palavra naquele momento.

Aos poucos, vi os rostos se iluminarem, os sorrisos desabrocharem, as mãos afagarem os cabelos e as costas do outro, os olhos se fecharem suavemente e até lágrimas escorrerem, sem qualquer motivo aparente, pelas bochechas rosadas de alguns. Em vários pontos do auditório, fileiras humanas se formaram, espontaneamente, compartilhando sentimentos através do abraço.

Compenetrada em meu ofício, continuei registrando com a minha Canon aquela troca de energias salutares e fraternais entre os presentes quando fui abraçada. Lentamente, eu me virei e retribui o abraço, o que me imprimiu nova energia. Contagiada, sai à busca de outros braços, que vieram em maior número à medida que eu caminhava por entre os assentos e abria os meus, receptiva, para quem encontrava.

Só então foi que pude sentir, em mim mesma, os efeitos revigorantes da Dinâmica dos Abraços, que foi proposta pela coordenadora do I Encontro de Cultura Espírita de Alagoas, Iolanda Cavalcante – promovido pela Federação Espírita do nosso estado, nesse último sábado –, para “acordar”os participantes e retomar os trabalhos, após o intervalo do almoço.

Essa dinâmica simples, e ao mesmo tempo tão rica, me fez lembrar da ação “milagrosa” do toque, sobre a qual os estudiosos vêm falando e comprovando cientificamente, já há algum tempo. Há estudos, por exemplo, que estabelecem um mínimo de oito abraços diários para que uma pessoa se mantenha saudável, psíquica e fisicamente. Imagine, então, a importância deles para os que estão isolados da sociedade, como os órfãos, os idosos e os doentes!

O mesmo pode ser dito para quem vive insulado em si mesmo, como os depressivos e os egoístas, só que em sentido contrário, pois são os que mais precisam aprender a abraçar... Por isso, há médicos que recomendam a criação de animais para as pessoas solitárias. Apesar das alergias que podem causar, principalmente gatos e cachorros, o convívio com eles desperta na criatura humana a afetividade.

Um abraço pode, entre outras coisas, viabilizar o perdão, atar os laços de ternura, expressar a alegria de um encontrou ou materializar o sentimento da compaixão. Um abraço, em sua silenciosa eloqüência, pode traduzir frases tão curtas quanto milagrosas, como: “Eu te compreendo!”, “Está tudo bem!”, “Eu te amo!”, “Que saudade...”, “Eu estou aqui!”. Mas o seu efeito será sempre o mesmo para aquele que o recebe: a alegria de se sentir acolhido e aceito como é.

Como aconteceu ao menino de um ano e meio que eu conheci numa creche em Olinda-PE, na década de 80, em uma festa natalina a que fui convidada. Assim que me abriu os braços, botei-o no colo com extremo carinho. Não demorou muito e a criança ressonava. Tentei acordá-la e nada. Quando tudo terminou, deitei o pequeno no berço, beijei-o na fronte e saí, profundamente emocionada e agradecida, sentido, ainda, o calor do seu corpinho franzino aquecendo-me o peito...

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