quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A alguns passos da liberdade...

Como disse o reverendo em seu discurso, ainda estamos no começo, mas trabalhemos com fé, "pois o sofrimento imerecido é redentor”.


Quando Rosa Parks se recusou a dar o lugar a um homem branco que estava em pé no ônibus em que se encontrava, numa quinta-feira (01/12/55), na cidade de Montgomery, ela não imaginava que o seu gesto iria desencadear um movimento que daria fim à segregação racial legal nos Estados Unidos.

Mais do que rebeldia, sua atitude refletia o cansaço de um dia exaustivo de trabalho em uma loja de departamentos. Mas Rosa também estava cansada de ser empurrada de um lado para o outro e ter os seus direitos sempre usurpados em favorecimento dos brancos, mesmo que estivesse no lugar reservado aos negros, como no dia em que foi presa.

Quando saiu para o tribunal na segunda-feira, surpreendeu-se com os ônibus circulando vazios ou levando apenas o pequeno número de passageiros brancos, enquanto que as ruas estavam cheias de pessoas negras a caminho do trabalho.

Na entrada do fórum, cerca de 500 pessoas ameaçavam invadir o prédio caso a mulher não fosse libertada logo. Mesmo sendo julgada culpada por violar a lei de segregação racial e condenada a pagar multa de dez dólares, além das custas do processo, Rosa foi ovacionada por aqueles que a aguardavam ao sair em liberdade: pela primeira vez na história a causa de um negro foi levada a uma instância maior!

Passados oito anos, quando mais de 200 mil pessoas reunidas entre o Monumento de Washington e o Memorial de Lincoln, na capital dos Estados Unidos – numa manifestação pelos direitos humanos –, ouviram o discurso emocionado de Martin Luther King Jr. (26/08/63), pouco ou quase nada havia mudado na vida dos negros norte-americanos.

O reverendo aproveitou a oportunidade para conclamar todos – negros e brancos que ali se faziam presentes – a continuar a luta com fé, dignidade e disciplina. Pediu que jamais permitissem que o seu protesto degenerasse para a violência, preferindo m fr a "or para a violsto criativo delesvo de coranos.soas se reuniram entre o Monumento de Washington e o Memorial de a “força do espírito” à força física, mas anunciou: “1963 não é um fim, mas sim um começo”.

Ali, Luther King proferiu palavras que até hoje servem de inspiração e incentivo para os que lutam contra o preconceito racial: “Apesar das dificuldades e frustrações do momento, eu ainda tenho um sonho. [...] Sonho que um dia os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos donos de escravos possam se sentar juntos à mesa da fraternidade. [...] Sonho que meus quatro filhos um dia vivam num país onde não serão julgados pela cor da pele, mas por seu caráter. [...] Sonho que um dia criancinhas negras possam andar juntas e de mãos dadas com as brancas, como crianças irmãs”.

E arrematou o discurso que o imortalizou, imprimindo mais força às suas palavras: “Se deixarmos que soe a liberdade, se a deixarmos soar em todos os vilarejos e povoados, em todos os estados e em todas as cidades, conseguiremos antecipar o dia em que todos os filhos de Deus, negros e brancos, semitas e não semitas, protestantes e católicos, poderão dar as mãos e cantar as palavras do antigo spiritual dos negros: ‘Livres, finalmente! Livres, finalmente! Graças a Deus Todo-Poderoso, nós estamos livres, finalmente!”.

Foi bastante emocionada, lembrando dos inúmeros desconhecidos que lutaram por essa causa, que eu assisti na noite da última quinta-feira – quase 53 anos depois da prisão de Rosa Parks – ao povo norte-americano se curvar diante de um jovem negro para elegê-lo, num recorde de comparecimento às urnas, presidente dos Estados Unidos da América.

A vitória de Barack Obama representa, aos meus olhos, muito mais que o apoio às propostas apresentadas pelo candidato à Casa Branca. É uma vitória da raça humana sobre si mesma, expurgando das suas entranhas um dos maiores males que a enfeiam perante a Obra divina: o preconceito. O que não significa dizer que o monstro esteja morto, mas, com certeza, sinaliza o amadurecimento progressivo da humanidade terrena. Como disse o reverendo em seu discurso, ainda estamos no começo, mas trabalhemos com fé, “pois o sofrimento imerecido é redentor”.

Nenhum comentário: