quinta-feira, 25 de junho de 2009

Lar Doce Lar

Caia uma chuvinha fina e era tarde da noite quando eu apaguei as luzes e tomei a direção do quarto para me recolher. No corredor, a meio caminho da porta, eu me deparei com uma cena inusitada: Ping, mergulhado num sono profundo, dormia com as patas estiradas em par – uma parte do corpo no colchãozinho que lhe serve de cama e a outra no chão –, como quem se sente completamente à vontade no seu lar-doce-lar.

Alguns passos adiante, encostei-me num canto da parede, de onde era possível observar Maya dormindo profundamente em sua cama. No outro quarto, à esquerda, Jade ressonava baixinho, com a mesma entrega da irmã, mantendo a elegância que lhe é peculiar durante a vigília.

Emocionada, coloquei as mãos em concha e me pus a agradecer a Deus pela linda família com que fui presenteada nesta existência.

Desde a adolescência, sempre tive a forte impressão de que seria mãe de duas meninas, de modo que sempre me senti realizada com isso. Mas, à medida que as minhas filhas foram crescendo, eu fui sentindo vontade de ter uma família maior: quatro é o número ideal! Pensava...

Mas a maternidade não mais se repetiu em minha vida, e a possibilidade de aumentar a família foi ficando cada vez mais remota com o passar dos anos, embora, vez ou outra, eu ainda sonhe com filhos pequenos e amamentação.

Talvez, por isso, tenha me emocionado tanto assistindo ao sono profundo dos “meus filhos”, enquanto agradecia a Deus. Naquele instante, lembrei-me também de Lola – o mais novo membro da família –, que cochilava no jardim. A nossa caçula é um periquito belga que Aninha deu a Jade em seu último aniversário.

Não sou do tipo que trata animal como gente e vice-versa. Gosto de cada coisa em seu devido lugar, mas não vejo nada demais em misturar os reinos, as espécies e as raças dentro de um mesmo ambiente, se a convivência não oferecer perigo e puder ocorrer de forma harmoniosa e pacífica.

Pois foi exatamente o que eu pensei naquele fim de noite. Com lágrimas a escorrerem pela face, agradeci a Deus pela harmonia do meu lar e por tudo o que conseguimos construir no limitado espaço físico que nos abriga.

Um cheiro de paz tomou conta da casa enquanto eu me lembrava das sábias palavras do filósofo dinamarquês Kierkegaard ao afirmar que a pureza do coração está em querer somente uma coisa.

Há algum tempo acabei me conscientizando de que o mundo de paz, que nós tanto desejamos, só vai existir de verdade quando cada um começar a trabalhar no seu alicerce com os tijolos do amor que forem produzidos dentro do próprio lar.

A família é uma instituição sagrada, imprescindível para o progresso da humanidade. Ela é o núcleo responsável pela difícil tarefa de preparar o ser que retorna à Terra para se conduzir no mundo com equilíbrio e operosidade no Bem, sob as rédeas seguras do amor e da educação.

Quantas criaturas se debatem hoje, em dores lancinantes, por não terem enxergado isso a tempo? Quantas consciências se deprimem em inúteis sentimentos de culpa por não terem dado aos seus filhos as orientações e o amor de que precisavam?

Entorpecentes da alma, as emoções passageiras e os apelos incessantes do mundo são como “o canto das sereias” para as mães e os pais da Terra, desviando-os do grandioso compromisso assumido junto aos filhos do Céu, que só reclamam atenção e exemplo, dedicação e compromisso.

Como crianças descuidadas – que destroem, “sem querer”, os seus brinquedos favoritos –, esses pais vão chorar depois lágrimas de sangue, sem consolo ou remédio, ao assistirem, impotentes, à queda desenfreada dos seus rebentos pelo despenhadeiro das drogas e da morte prematura.

Uma noite a mais em casa, uma refeição em família, meia hora de conversa com os filhos, 15 minutos de estudo do Evangelho no lar... Podem evitar tudo isso.

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