quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Sem despedidas...

(foto: Yvette Moura)

O tempo correu célere e não houve como reter as alegrias. Muitas vezes, também desejei avançar o calendário para que a vida seguisse o seu curso e as fases ruins, os dias difíceis, as incertezas da juventude, as recordações tristes, como tudo, pudessem passar.

Ficou apenas a lembrança do que vivi: momentos compartilhados; vitórias alcançadas; uma frase aqui outra ali, resistindo ao tempo; fatos engraçados; algumas saudades renitentes...

Se perdi em algum aspecto, oportunidades me surgiram pela frente, trazendo novos desafios, que me fizeram crescer como ser humano e amadurecer emocionalmente, somando aprendizado à minha bagagem de espírito imortal.

Nessa dinâmica, é claro, pessoas importantes se perdem da gente por um motivo ou por outro e não há nada a fazer a não ser seguir adiante, “apesar de....”. Como cantam os Ramalho, na belíssima “Chão de Giz”: “Estou indo embora, baby! No mais, estou indo embora...”.

De vez em quando, no entanto, um encontro inesperado traz de volta uma fatia do passado que já estava esquecido. Mas como é bom ter histórias para contar! Como é bom ter pessoas queridas para compartilhar momentos importantes! Afinal de contas, assim será a nossa trajetória – aqui ou alhures – na infindável dinâmica da vida, cujo início se perde na poeira do tempo e o fim é uma caminhada “sem fim”, em constante ascendência, vencendo etapas multimilenares pelas diversas galáxias do nosso extenso Universo.

De volta ao Recife para um corrido final de semana, na última tarde de sábado e manhã de domingo, caminhar pelas ruas do Espinheiro, atravessar as pontes que interligam a cidade, rever lugares conhecidos e abraçar pessoas queridas, que há muito não as via, fizeram vibrar intensamente essa alma cigana, que, apesar de ter profundas raízes fincadas no peito, traz a sensação frequente de estar sempre de partida.

Em alguns pontos da cidade – que guarda os segredos da menina que fui –, a minha memória olfativa revelou, sem demora, o lugar em que nos encontrávamos. “Vocês estão sentindo? – perguntava, eufórica, às meninas e à amiga alagoana que nos acompanhava – Este é o cheiro do Recife!”.
E o aroma doce das palmeiras inundava o ar como um gesto singelo de boas-vindas...

Com a agenda corrida, nem tivemos tempo de dar um passeio e deitar os olhos sobre os rios que sangram a cidade e dão a ela feições de uma Veneza brasileira, mas foi o suficiente para me sentir renovada e feliz.
Ao voltar para casa, tudo o que desejava era me jogar nos braços da rede, antes de terminar o dia, para embalar o cansaço e dar uma pequena pausa entre uma semana e outra, cheias de trabalho e responsabilidades.

Curiosamente carreguei saudades de um canto a outro. No Recife lembrava os afetos conquistados aqui, em solo alagoano; de volta ao lar, repassava na mente o último encontro com os amores pernambucanos...

Nesta tarde nublada, em que o céu se pinta de chumbo para colorir essas breves reflexões, eu me lembro que a vida tem uma dinâmica bem parecida com a das viagens que realizamos por aqui. Como numa movimentada estação de trem ou num aeroporto de grande porte, passageiros superlotam as plataformas de embarque e desembarque em constantes reencontros e despedidas.
Emocionados, abraçam-se e se cumprimentam efusivos. Alguns se vão sós; outros, em grupo, mas cada um carrega bagagens consigo, além de laços afetivos.

Na continuidade da vida, não há o que nos detenha quando chega a hora da partida. Nem sempre estamos preparados para fazê-lo, logo, é imperioso nos mantermos sempre inteiros e conectados com a nossa verdadeira essência, pois, como diz o poeta, “o melhor o tempo esconde longe, muito longe, mas bem dentro aqui”.

2 comentários:

lis disse...

Lembranças boas quando voltamos aos lugares onde já vivemos bons momentos,por onde andamos, amigos deixados por lá, caminhos percorridos , saudades.
São sensaçoes já experimentadas qdo volto a terra natal , recordadas agora lendo sua crônica, tão linda!
Fica tudo registradinho no coração,nao é?
Parabéns por saber tao bem expressar esses sentimentos.
Abraços

Yvette Maria Moura. disse...

ah, Lis, a nossa mente é um orgão interessante, que parece dispor de intermináveis cômodos para guardar as nossas experiências...
algumas ficam mais vivas, outras menos, mas aquelas, com certeza, são as que trazem maior carga emocional.
então, cheiros, cores, sons, tudo fica bem guardadinho nos refolhos da mente e, a qualquer momento, um novo estímulo pode os despertar...
somos um somatório de experiências. não é lindo isso?
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bjo!
MM.