quinta-feira, 12 de novembro de 2009

No cotidiano...

(foto: Yvette Moura)

Quinze reais. Uma herança de família. Os pertences alheios... Uma noitada entre amigos. Um programa com estranhos. Uma relação casual... A intolerância. A irritação momentânea. Emoções desenfreadas... Quanto custa a vida humana para quem se permite desfrutá-la na zona fronteiriça entre o Bem e o Mal? Eis a pergunta que não quer calar!

Quando a morte se anuncia de maneira inusitada e a integridade física é um bem que se permite violar com voracidade e descontrole, é imprescindível que se dê uma parada para refletir sobre a vida e o valor que a ela estamos dando nas nossas relações pessoais. A vida é um bem inviolável e, sempre que intentarmos contra ela, estaremos pondo em risco a nossa própria integridade – física, moral e espiritual. Nada vale mais do que a paz de um existir equilibrado!

Nem a satisfação imediata dos desejos “incontroláveis”, nem a busca desenfreada pelas facilidades e por tudo o que se pode obter num curto espaço de tempo; nem a resolução dos problemas pela força e pelo grito, que entorpecem os sentidos e dão a ilusão momentânea de um poder indestrutível; nem a ansiedade deletéria, que coloca fora do homem o princípio da felicidade...

Nada vale o cerceamento da liberdade, a queda moral, o desequilíbrio emocional, que só distanciam a criatura do convívio social e da alegria de construir a plenitude a partir de experiências comuns com os seus semelhantes e com aqueles que lhe querem bem. A aprendizagem do amor a partir do próprio exercício de amar, nos mais singelos acontecimentos da vida, nas situações mais corriqueiras...

Quem não aprende por essas vias, decerto, o fará pela dor, que a própria existência se encarregará de trazer para a sua intimidade. Afinal, como diz o sábio, nada melhor do que a vida para aquele que se permite infringir de forma contumaz as leis divinas e humanas – com seus altos e baixos, perdas e ganhos, além do advento das doenças e da partida dos entes queridos.

Já que é necessária a presença do escândalo para o aprimoramento da humanidade, como alerta Jesus em seu Evangelho, é preciso cuidar para que não sejamos nós o instrumento infeliz através do qual os escândalos venham. Pois, uma vez culpados, haveremos de arcar com as consequências dos nossos atos, como rege a Lei de Ação e Reação, que se aplica a todos os seres do universo.

Urge empreendermos a busca pelo autoconhecimento e nos aplicarmos no adestramento das nossas más tendências, a fim de não cairmos nas teias da obsessão e do crime, que começam com os pequenos delitos – que habitualmente desculpamos em nós e nos nossos apadrinhados. Para tanto, é pertinente lembrar o diálogo criado por Amélia Rodrigues no seu “Dias Venturosos”, entre Jesus e Pedro, quando este questiona ao Mestre sobre o real significado do Reino dos Céus, que Ele tanto fala.

- Onde encontrá-lo? Como chegar lá? Onde fica? Questiona o apóstolo, que, falho como qualquer outro ser humano em processo de ascensão espiritual, ainda negaria o seu mestre três vezes.

Com olhos lúcidos e complacentes, o Cristo explica que o Reino dos Céus não é um lugar circunscrito no espaço. Não está nem em cima nem em baixo de nós; de um lado ou do outro do Globo Terrestre, mas constitui um cantinho sagrado construído no imo da alma pelo próprio homem. “Lugar onde todas as angústias se acalmam...”.

Quando vejo a morte destronando a vida de forma brutal, como nos últimos acontecimentos, num processo inverso ao idealizado pelo Criador para todos os seus filhos – vida em abundância! –, penso que estamos nos descuidando desse templo sagrado, que deve ser erguido diariamente dentro de nós. Lugar cujas paredes não são feitas de concreto nem comportam aparências, mas devem estar impregnadas do amor ao próximo, a Deus e a nós mesmos.

A dor reclama Jesus no nosso cotidiano, no nosso lar e dentro de nós!

2 comentários:

Ernâni Motta disse...

Yvette, cheguei até aqui navegando, navegando... E percebi que se trata de um porto de seguro, onde voltarei sempre.
Quanto ao artigo, um tesouro de uma essência chamada sabedoria!
Beijos

Yvette Maria Moura. disse...

fico feliz que as águas virtuais tenham te trazido até este pequeno ancoradouro, Ernâni. seja bem-vindo!
nas marés altas ou nos bons tempos, naveguemos juntos.
um abraço,
MM.