sábado, 5 de junho de 2010

O homem e a natureza

Chegamos cedo ao parque, acompanhadas das nossas crianças, que mal se continham de alegria e ansiedade para por os pés no chão e explorar o ambiente. Além da exuberância da mata virgem, no lugar havia trilhas para todos os gostos, diferindo pelo grau de dificuldade e pela paisagem.

Embora Felipe estivesse totalmente equipado para adentrar na trilha mais densa, na qual se dizia existir até jacarés habitando o lago, preferimos seguir pela Trilha das Nascentes por conta das meninas. Medrosas, e também mais pequeninas do que o filho da minha amiga, elas choramingavam só de imaginar a possibilidade de ficarem cara-a-cara com o réptil ameaçador, cuja boca serrilhada de dentes afiados e pontiagudos mais lhes parecia uma armadilha à espera dos distraídos.

O menino seguia à frente do grupo sentindo-se o próprio bandeirante, e nós – Mayra, Jade, Maya, a cunhada Simone e eu –, vínhamos logo atrás, trocando impressões sobre as belezas da Mãe Natureza, muito bem representada naquele lugar.

Ao fim de breve caminhada – passando por cima de pontes, pedras, folhagem molhada e areia branquinha –, chegamos a uma nascente de águas límpidas, que brotava das entranhas da terra e era protegida por raízes e troncos de árvores, plantas silvestres e arbustos de folhagem variada, deixando todos extasiados com tanta harmonia.

Então, aproveitei para propor um pequeno exercício, convidando todos a “sentir a natureza”. Sentamos em círculo sobre os seixos – a água contornando-nos o corpo suavemente – e fechamos os olhos. A idéia era fazer silêncio durante cerca de dois minutos, enquanto os outros sentidos eram aguçados e se tornavam receptivos às manifestações várias da natureza. Para minha surpresa, as crianças aceitaram de pronto o desafio e permaneceram imóveis e silenciosas enquanto eu conduzia cada passo do exercício.

Ao final, pedi que me relatassem o que haviam sentido. Felipe falou sobre o movimento das águas, contornando as suas pernas; Maya contou que havia escutado o canto de vários pássaros ao mesmo tempo, sentindo imensa vontade de voar junto com eles; Jade lembrou o zumbido de uma abelhinha que se acercou dela e ali permaneceu, sem picar-lhe a pele; Simone, emocionada, disse ter sentido a presença de Deus; e Mayra dividiu conosco a imensa alegria que sentiu por estar ali.

Sorri, satisfeita com o resultado. Mas quando me perguntaram o que eu havia sentido naqueles breves instantes de meditação, eu enchi os olhos de lágrima e falei sobre a unidade que formamos com o meio ambiente, e o quanto isso me inspira um profundo sentimento de gratidão.

Quando silenciei, mentalmente pedi ao meu corpo que se misturasse ao todo, como se fosse mais um tronco, uma pedra, um grão de areia, uma folha caída, uma gotícula d’água... E concentrei-me em cada som que me chegava aos ouvidos com o auxílio da brisa até sentir um leve toque no braço esquerdo. Estremeci ante a possibilidade de ser um bicho nocivo, mas logo recobrei a serenidade propondo a mim mesma que aceitasse aquela carícia, fosse do que fosse. Para minha surpresa, ao abrir os olhos vi que se tratava de uma belíssima borboleta, que pousara distraidamente sobre a minha pele.

Na semana em que se discute a preservação do meio ambiente, e várias atividades estão sendo realizadas para despertar as consciências sobre a importância da educação ambiental, não há como não recordar os piqueniques que eu fazia com as meninas, no Parque Municipal. Conscientizar crianças e jovens é preparar as bases para o futuro de paz que todos nós desejamos. O assunto deve ser abordado nas escolas assim como no seio das famílias, e a reciclagem do lixo, a coleta seletiva, o plantio de árvores, devem se tornar lições domésticas – como o respeito ao próximo e a prática do bem – para que as mudanças realmente aconteçam.

3 comentários:

Anônimo disse...

Lindo texto! É sempre muito bom ler seus escritos, mas confesso que antes mesmo de chegar ao fim tive vontade de vir fazer um comentário de protesto, porque você estava se referindo àquelas duas belas jovens, que mais parecem suas irmãs, como as crianças, as meninas... rs.
Foi bom ter ido até o final e constatar que se tratava de lembranças delas pequeninas, ainda.
Graaaannnde beijo,

S.

Anônimo disse...

Parabéns pelo merecido prêmio. UhUhUhhhhh!
Aproveitando o ensejo lhe envio duas belíssimas músicas francesas.
São bem antigas, uma de 1968 e a outra 1965. Verdadeiras pérolas.
Uma delas fala sobre a amizade, anexei a tradução.
Espero que sejam do seu agrado.
Um ótimo fim de semana.

Jacq.

L'amitié/ Amizade
(Françoise Hardy)

Beaucoup de mes amis sont venus des nuages/Muitos de meus amigos vieram das nuvens,
Avec soleil et pluie comme simples bagages/Com o sol e a chuva como bagagem.
Ils ont fait la saison des amitiés sincères/Fizeram a estação da amizade sincera,
La plus belle saison des quatre de la terre/A mais bela das quatro estações da terra.

Ils ont cette douceur des plus beaux paysages/Têm a doçura das mais belas paisagens,
Et la fidélité des oiseaux de passage/E a fidelidade dos pássaros migradores.
Dans leurs cœurs est gravée une infinie tendresse/E em seu coração está gravada uma ternura infinita,
Mais parfois dans leurs yeux se glisse la tristesse/Mas, as vezes, uma tristeza aparece em seus olhos.

Alors, ils viennent se chauffer chez moi/Então, vêm se aquecer comigo,
Et toi aussi tu viendras/e você também virá.

Tu pourras repartir au fin fond des nuages/Poderá retornar às nuvens,
Et de nouveau sourire à bien d'autres visages/E sorrir de novo a outros rostos,
Donner autour de toi un peu de ta tendresse/Distribuir à sua volta um pouco da sua ternura,
Lorsqu'un autre voudra te cacher sa tristesse/Quando alguem quiser esconder sua tristeza.

Comme l'on ne sait pas ce que la vie nous donne/Como não sabemos o que a vida nos dá,
Il se peut qu'à mon tour je ne sois plus personne/Talvez eu não seja mais ninguém.
S'il me reste un ami qui vraiment me comprenne/Se me resta um amigo que realmente me compreenda,
J'oublierai à la fois mes larmes et mes peines/Me esquecerei das lágrimas e penas.

Alors, peut-être je viendrai chez toi/Então, talvez eu vá até você
Chauffer mon cœur à ton bois/
aquecer meu coração com sua chama.

Yvette Maria Moura. disse...

oh, queridas, o que seria de mim sem o carinho e a amizade de vcs?
Serra, ter vc como leitora é uma grande honra para mim. saiba disso.
Jacq, obrigada pela torcida sincera. adorei as canções! a primeira é uma velha conhecida da infância e "L'amitié", salvo engano, é a canção que finaliza o filme "Invasões Bárbaras", não é?
amei.
depois da maternidade, a amizade é, para mim, a mais bela face do amor.
bjos,
MM.