quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Entre quatro paredes...

(foto: Yvette Moura)

Tudo começou entre as quatro paredes da humilde residência de Pedro, na cidade de Betsaida. Noite estrelada, a conversa seguia animada, após a última refeição do dia, quando o visitante ilustre, provisoriamente instalado naquele ambiente familiar, buscou imprimir uma nova dinâmica à conversação.

- Simão – falou Jesus, observando que a conversa já tomava um rumo menos edificante –, o que faz o pescador quando vai ao mercado para vender o apanhado do dia?

Profundo conhecedor do ofício mais antigo do mundo, Simão Pedro Bar-Jonas não teve dificuldades para responder: - Escolhe os melhores peixes, Senhor, pois ninguém compra os restos da pesca.

Atraindo a atenção dos demais, o Mestre Nazareno continuou na condução daquele diálogo perguntando ao pescador sobre como faziam os oleiros para construir, com perfeição, as peças que eram objeto do seu esforço diário e como procediam os carpinteiros para alcançar o efeito pretendido junto às toras de madeira.

O primeiro a ter o privilégio de ouvir o chamado do Divino Pastor, Pedro já se acostumara aos colóquios metafóricos do Mestre: - Certamente, o oleiro procura o barro mais adequado e o modela, imprimindo-lhe a forma desejada. Já o carpinteiro, Senhor, vai precisar de várias ferramentas específicas, como o enxó, o serrote, o martelo e o formão, para dar forma aos móveis e utensílios que fará.

Aproveitando o ensejo, as informações do aplicado aluno e a atenção de todos os seus parentes, o Educador Incansável afirmou que o ambiente doméstico é a primeira escola do ser e o primeiro “templo da alma”. “Se o negociante seleciona a mercadoria, se o marceneiro não consegue fazer um barco sem afeiçoar a madeira aos seus propósitos, como esperar uma comunidade segura e tranqüila sem que o lar se aperfeiçõe?”, questiona o Divino Instrutor, no conto do espírito Neio Lúcio (Jesus no Lar), pela pena mediúnica de Chico Xavier.

Seguindo o Seu raciocínio – tão oportuno quanto necessário aos dias tormentosos por que passa a humanidade hoje –, Jesus adianta que a paz do mundo começa sob o telhado que acolhe as criaturas humanas em forma de família. Lembra que se não conseguirmos viver em paz entre as quatro paredes da nossa casa, dificilmente alcançaremos a fraternidade tão ansiada entre as nações. E acrescenta, indo mais além: “Se nos não habituamos a amar o irmão pais próximo, associado à nossa luta de cada dia, como respeitar o Eterno Pai que nos parece distante?”.

Após breve silêncio, que permitiu que os seus ensinos calassem fundo na alma daquelas criaturas, Jesus retomou a palavra e utilizou a mesa como objeto símbolo da reunião familiar: “- Nela, recebes do Senhor o alimento para cada dia. Por que não instalar, ao redor dela, a sementeira da felicidade e da paz na conversação e no pensamento?”. E foi aí, ante a permissão sincera do humilde seguidor, que Jesus, convidando a família do pescador à palestra edificante e à meditação elevada, desenrolou os pergaminhos dos ensinamentos sagrados e instituiu o primeiro Culto do Evangelho no Lar.

Nos dias atuais, mais de vinte séculos depois das primícias da Boa Nova, o mundo inteiro está sendo chamado a copiar o lar de Pedro naquela noite sublime. Observando a falta de responsabilidade e comprometimento com que se está conduzindo a maioria das famílias, hoje, Jesus nos convida a abrir as portas da nossa casa, pelo menos uma vez na semana, para que Ele, aí, possa pernoitar.

E as lições em torno da mesa – sobre os valores imperecíveis que nutrem a alma e protegem o lar –, talvez sejam o tratamento profilático que está faltando para nos preservar do mal das drogas e da violência, que estão dizimando as famílias.

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