sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Breve ensaio sobre residências

(foto: Yvette Moura)

À esta hora, em que te debruças n’algum lugar tranqüilo para ler esses breves escritos, a minha temporada de férias já terá acabado e eu, dando continuidade ao que tenho feito há mais de quinze anos, nesta capital, estarei escrevendo com imagens algum fato novo, na região metropolitana de Maceió.

Das férias, guardarei muito mais a lembrança dos lugares por onde passei e do projeto-de-pequenas-grandes-mudanças que estabeleci para este ano, do que das pessoas com quem estive propriamente.

Mas isso não tem nada a ver com descrédito na criatura humana ou qualquer desapego meu em relação às pessoas de minha convivência. Também não significa que tenha viajado para vários lugares e conhecido novos recantos, sobre os quais deseje falar posteriormente; nada disso!

Para ser sincera, passei a maior parte das minhas férias em casa, salvo dez dias em Recife, dois em Jequiá da Praia e um final de semana entre Garanhuns e São Benedito do Sul – lugares bem conhecidos e já visitados outras vezes.

O fato é que andei voltada para dentro de mim mesma, esse tempo, numa espécie de isolamento voluntário, no qual revi valores e estabeleci metas para 2011. E, mesmo acompanhada, me mantive comigo a cada instante, observando o que queria e o que não queria mais no futuro.

Por isso fiquei mais sensível, penso, aos ambientes onde andei, assim como à minha própria casa, que também sofreu mudanças consideráveis. Fiz do lar uma extensão do meu corpo – necessitando de cuidados tanto quanto eu – e deste, uma morada ambulante, que me abriga e acolhe aonde quer que eu vá.

Talvez por isso, pude sentir com maior profundidade a energia dos lugares por onde passei. Como a casa de braços acolhedores, habitada por muitas almas, de diferentes culturas, que tem sobrevivido à passagem dos séculos, no litoral sul alagoano, e, mesmo à distância, reclama a nossa presença; a construção ampla e bem dividida, plantada na área serrana da grande Recife, que mesmo rodeada de fruteiras e largas janelas, às vezes sufoca e aprisiona, acusa e afasta, como mãos imaturas e medrosas; e o lar construído numa larga avenida da Veneza brasileira, muito bem decorado e moderno, cuja movimentação rotineira se restringe aos quartos e à cozinha, além da área de serviço: o resto é puro cenário de festas e ilusões passageiras, onde muitas histórias começam e terminam ali mesmo.

A surpresa ficou com a última residência visitada. Comprada e reformada a pouco mais de um ano – numa área privilegiada da pequena cidade apadrinhada por São Benedito, na Zona da Mata Sul de Pernambuco –, eu só a conheci no último final de semana. A garagem ampla (amplamente divulgada pelo dono) e o agradável quintal de cimento, além da cisterna de médio porte, a cozinha larga, as salas estreitas e os quartos abafados, e também uma agradável varandinha com rede e espreguiçadeiras, compõem o aprazível prédio. Mas o que mais me chamou a atenção foi a sonoridade de alguns ambientes, que me fizeram dar boas gargalhadas.

A porta que separa a cozinha da sala fazia um barulho engraçado toda vez que era aberta, por causa do rodapé acoplado à madeira para evitar a entrada de insetos. Semelhante a um carro entrando numa curva em alta velocidade, o som sempre me causava certo espanto, como se esperasse ouvir, em seguida, um freio brusco, um grito ou o estrondo de um abalroamento…

Já a torneira do banheiro do quarto, soltava gritos desconexos quando escoava a água, como se o cano fosse largo demais para o gorgolejo do líquido dentro dele. Embaixo do tanque de roupas, sob o ralo, se ouvia rangidos estranhos: provavelmente ratos reclamando a infame prisão. “Mas o bom da vida são esses momentos!”, repetia Eduardo, feliz por ver a família reunida. E eu concordo com ele, mas isso é assunto para outras divagações.

2 comentários:

Anônimo disse...

Estou revoltada! Que canhotinhense mais fuleira! Recife, Garanhuns, São Benedito... E Canhoto Pequeno, nada?! Ingratidão com a bela terra em que nasceste. Decepção, Moka...
HAHAHAHAHAHAHA...

Yvette Maria Moura. disse...

pois é, menina. já pensou???
ei, a sua pergunta saiu hoje no Programa Lições de Vida, às 17h, na Rádio Correio 1200 AM. passamos vinte minutos debatendo sobre o assunto. quase te liguei, mas não deu tempo...
o programa é aos domingos. está muito legal. se tiveres oportunidade, assiste, tá?
bjos canhotinhenses.
hahahahah
MM.