terça-feira, 29 de março de 2011

Missão cumprida!


Ele foi aplaudido de pé, por cerca de três minutos, ao ser chamado à mesa, na solenidade de abertura do 3º Congresso Espírita Brasileiro, em abril do ano passado, na capital federal. A figura ímpar do então vice-presidente crescia aos nossos olhos, como exemplo de força, perseverança e resignação.


Naquela ocasião, também conheceríamos a alteridade de José Alencar, que reverenciou a figura de Chico Xavier como exemplo de humildade e amor ao próximo. Ele fez questão de frisar que não só aprendeu a admirar o médium durante toda sua existência, mas também a respeitá-lo pelo maravilhoso legado que deixou através dos livros psicografados “de uma forma notável”.


Na oportunidade, José Alencar citou uma frase de Cervantes para se referir ao médium, afirmando ser a humildade a mais importante das virtudes, sem a qual nenhuma outra poderia existir. Mal sabia ele que a sua fé, inspiradora-mor da bravura que demonstrava nos últimos anos, também lhe denunciava a grandeza da alma.


Durante treze anos, o ex-vice-presidente travou uma luta silenciosa contra a doença que o vitimou no início da tarde, na Unidade de Terapia Intensiva do hospital Sírio Libanês, na cidade de São Paulo. Uma batalha digna de quem, apesar das internações cada vez mais frequentes, insistia em continuar participando ativamente da vida política do seu país. Tanto que, por pouco, não compareceu à solenidade de posse da presidenta Dilma e desceu a rampa do Palácio do Planalto ao lado do ex-presidente Lula para transferir o cargo ao seu sucessor.


Ainda assim, sentiu-se na obrigação de vestir um terno e convocar a imprensa para uma entrevista coletiva a fim de apresentar os motivos que o haviam demovido da idéia inicial. Os apelos da esposa e a certeza da “missão cumprida” fizeram-no aceitar as limitações da doença e permitir que, à distância, o país seguisse o seu rumo sem ele.


Na conversa com os jornalistas, voltou a afirmar que não tinha medo da morte, colocando-se inteiramente à disposição de Deus para a cartada final sobre a sua vida. Morrer ou não morrer, sobreviver ou não ao câncer que lhe consumia o corpo, era uma decisão divina.


Ao tomar conhecimento do seu desencarne, portanto, não poderia deixar de render, aqui, a minha singela homenagem pelo belíssimo exemplo deixado ao povo brasileiro. Sobre o empresário ou o político, eu pouco ou nada saberia dizer que acrescentasse ao que já se sabe dele, mas sobre o homem que venceu os próprios limites numa batalha desleal, mas mesmo assim não entregou os pontos, talvez tenha algo a dizer: o sorriso constante em seus lábios, nas sucessivas vezes em que deixou o hospital, denotava o burilamento interior que a doença estava proporcionando a este espírito.


“Estou melhor do que das outras vezes”, declarava bem-humorado, brincando com o próprio quadro clínico. Mas, talvez, falasse de algo que nem ele mesmo compreendia: a cura real nem sempre acontece no corpo, e o que nos parece, às vezes, um mal enorme nada mais é do que uma oportunidade grandiosa, embora com dores e sacrifícios, para o embelezamento da alma. Afinal, como diz o Mestre, de que adianta ganhar o mundo e perder-se a si mesmo?


Apesar das mais de quinze cirurgias a que foi submetido, além das mutilações que sofreu, Alencar se sentia cada vez mais vencedor diante de si mesmo. Após a maior das cirurgias realizadas, no ano de 2009, declarou que pedia a Deus constantemente para não lhe dar nenhum tempo de vida a mais, do qual não pudesse se orgulhar.


Mesmo não sabendo o que o aguardava após a morte, tenho certeza de que o seu esforço não foi em vão. E a cura integral certamente se fez, libertando o espírito que já não cabia mais num corpo físico tão limitado. Que a misericórdia divina e o amor de Jesus o alcance, vice-presidente, onde quer que o senhor se encontre!

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pela mensagem dirigida ao grande homem público e político José Alencar. Nós, como você, tivemos a alegria de vê-lo no referido congresso e senti orgulho e respeito por esse homem de bem, que realmente cumpriu a sua missão.

Petrúcia.

Anônimo disse...

José Alencar, um grande empresário, conseguiu o mais alto cargo na política, mas, acima de tudo um homem simples, religioso, direcionado para o bem, para as coisas justas. Gostaria de ver na política brasileira homens assim como êle.

Beto Hipólito.