quarta-feira, 22 de junho de 2011

À chegada do inverno

Olhar para além da janela, como se fora um convite para debruçar a alma sobre o pára-peito da existência e aspirar sem medo o gosto puro da vida, é como me sinto agora, quando posiciono as mãos sobre o meu netbook para matar a saudade dos meus leitores escolhendo cuidadosamente as palavras que afluem do meu coração.

Afinal, foram semanas inteiras de espera, silêncio e expectação, tomadas por um corre-corre sem fim, que me engoliu as horas e me afastou temporariamente desta prática que eu amo tanto: lançar mensagens ao mar de gente que busca nas palavras o alimento para as suas almas, como tantas, alquebradas e aflitas...

E mesmo divisando prédios – árvores de concreto que sacodem para mais adiante a minha sede de céu –, conseguir enxergar a presença persistente e genuína da Natureza, que não se deixa vencer pela ignorância humana, já é um ganho.

E mesmo escutando buzinas, freadas bruscas e o grito estridente das serras construindo mais prédios, ao invés do canto melodioso dos pássaros, ouvir a musicalidade da chuva – como uma mensagem divina que desce à Terra repetindo sem cessar “estou aqui!” – já me conecta com o Mais Além.

O hálito frio que me bafeja da janela ao lado, nesta tarde chuvosa em que o outono se despede e abre as portas ao inverno, é a inspiração que me falta, muitas vezes, no corre-corre dos dias, no calor dos afazeres, na urgência das responsabilidades.

O amarelar das folhas, percebo, a baixa de temperatura, foram apenas um prenúncio do que vem pela frente, com dias mais frios e maior incidência de chuva. E não há como ficar indiferente a tudo isso...

A natureza agora, grande professora incompreendida, convida-nos, mais uma vez, à simplicidade e ao aprimoramento. Nessa estação, as aves migram, os ursos hibernam e a própria criatura humana se recolhe e se aquieta ante as ameaças naturais da própria geografia do Planeta.

Por força das enchentes, das geadas, dos deslizamentos, entre outros fenômenos naturais que nos amedrontam, as pessoas são levadas a se unir mais; a se dar as mãos. Sem falar dos cataclismos sociais, que estão virando verdadeiros fantasmas da contemporaneidade.

Mais ignorante do que leviano, o homem tem criado hábitos absolutamente desnecessários, enfrentando conseqüências bem amargas por isso. O submundo das drogas, as perversões sexuais, a decadência da política, os flagelos morais e a fragilidade flagrante no seio das famílias são alguns exemplos disso. Nunca fomos tão chamados ao renascimento.

Como nos outros reinos da Criação, faz-se mister abrir mão das velhas práticas para que uma nova humanidade possa surgir a partir de nós: mais humana; mais equilibrada, saudável e justa. Como o vôo da borboleta após o aperto do casulo, a força do carvalho após a vitória da semente e a expansão do universo após o “big bang”.

Sem maiores complexidades, dia chegará em que o belo será exteriorizado numa aura de harmonia e simplicidade. Pois, como afirma Joanna de Angelis em Convites da Vida, simples são todas as coisas de elevada grandeza e alto sentido espiritual.

Nenhum comentário: