(foto: Yvette Moura)
A data mais uma vez se aproxima e a idéia da morte começa a
povoar o imaginário das pessoas como uma perda irreparável. Mais um dia chega e
o fim parece um castigo inevitável, gerando horror e lamento em todos que se
defrontam com ele. A idéia do nada aflige e apavora a maioria, levando alguns a
negarem tudo que não conseguem divisar com os olhos nem tocar com as próprias mãos,
dizendo-se ateus.
Mais do que uma convicção, a rebeldia e o orgulho levam a
criatura a negar o Criador, que continua no comando de tudo independente de ser
crido ou não. E a vida continua regida por leis universais, como a reencarnação
– em que a dinâmica de chegar e partir inúmeras vezes está inserida, como
instrumento da justiça e do progresso...
Eu não gosto desse lugar! Disse-me uma senhora na porta do cemitério
São Luís, no ano passado, enquanto eu distribuía Lições de Vida sobre a
imortalidade da alma. Acompanhando o marido na visitação ao filho, morto anos
atrás em um acidente automobilístico, ela esperava no portão enquanto o outro
se debruçava sobre a lápide fria, debulhando sua saudade e inconformação em lágrimas
de tristeza e amargor. Pois não compartilhava da crença do esposo, que julgava
ter perdido o filho para sempre.
Com sorriso nos lábios, ela me segredava a experiência
vivida com o filho no primeiro Dia de Finados, quando o pai passara horas
chorando à beira do túmulo. Como não acreditava estar ali, entre os mortos, o
seu ente querido, decidira ficar em casa curtindo a sua saudade, que ainda doía
muito.
Num momento silencioso, em que se deitara um pouco, teve o
quarto invadido pelo perfume do primogênito e se sentiu enlaçada por seus
braços fortes do filho, num caloroso abraço. Estou aqui! Ouviu a voz querida,
que vinha iluminada de um largo sorriso no semblante adorado e feliz, que
surgia como um lindo retrato nos recônditos da sua mente.
Na felicidade daquele encontro (exatamente como ele gostava
de fazer em vida), disse, lembrou-se do marido, sozinho no cemitério, triste e
infeliz, que buscava nos despojos do filho a vida que estava ali, ao seu lado.
“Eu tive uma pena dele...” – declarou.
E é exatamente assim que eu me sinto com relação àqueles que
não conseguem compreender a real dinâmica da vida, e aceitar que, independente
da nossa crença, a vida continua, estuante e liberta, indefinidamente.
Buscando a lógica da vida, o que nos parece mais absurdo é
imaginar que após estudarmos tanto, adquirirmos conhecimentos vários,
estabelecermos várias formas de relação com grande número de pessoas e
inscrevermos nossos nomes na história, por força dos nossos feitos – mesmo que
seja na restrita história de um pequeno grupo –, tudo se acabe, de repente, sem
nenhum sentido.
Cultuar os despojos, no meu entender, é prolongar o
sofrimento e reavivar, a cada ano, a idéia da perda, da ausência e do nada.
Festejar a vida, através da alegria e da oração, é fortalecer os sentimentos,
viabilizar os canais de comunicação com os seres que amamos e estender ao
infinito o afeto genuíno, encurtando distâncias pelos laços do coração.
Fundamentado em seus estudos e experimentações, sobre a
comunicação dos ditos mortos através de aparelhos eletrônicos, o pesquisador
baiano Clóvis Nunes afirma sem receio de cometer erros: Eles não estão lá! Os
cemitérios não são hotéis de espíritos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário