terça-feira, 25 de outubro de 2011

Para além da vida...


(foto: Yvette Moura)

A data mais uma vez se aproxima e a idéia da morte começa a povoar o imaginário das pessoas como uma perda irreparável. Mais um dia chega e o fim parece um castigo inevitável, gerando horror e lamento em todos que se defrontam com ele. A idéia do nada aflige e apavora a maioria, levando alguns a negarem tudo que não conseguem divisar com os olhos nem tocar com as próprias mãos, dizendo-se ateus.

Mais do que uma convicção, a rebeldia e o orgulho levam a criatura a negar o Criador, que continua no comando de tudo independente de ser crido ou não. E a vida continua regida por leis universais, como a reencarnação – em que a dinâmica de chegar e partir inúmeras vezes está inserida, como instrumento da justiça e do progresso...

Eu não gosto desse lugar! Disse-me uma senhora na porta do cemitério São Luís, no ano passado, enquanto eu distribuía Lições de Vida sobre a imortalidade da alma. Acompanhando o marido na visitação ao filho, morto anos atrás em um acidente automobilístico, ela esperava no portão enquanto o outro se debruçava sobre a lápide fria, debulhando sua saudade e inconformação em lágrimas de tristeza e amargor. Pois não compartilhava da crença do esposo, que julgava ter perdido o filho para sempre.

Com sorriso nos lábios, ela me segredava a experiência vivida com o filho no primeiro Dia de Finados, quando o pai passara horas chorando à beira do túmulo. Como não acreditava estar ali, entre os mortos, o seu ente querido, decidira ficar em casa curtindo a sua saudade, que ainda doía muito.

Num momento silencioso, em que se deitara um pouco, teve o quarto invadido pelo perfume do primogênito e se sentiu enlaçada por seus braços fortes do filho, num caloroso abraço. Estou aqui! Ouviu a voz querida, que vinha iluminada de um largo sorriso no semblante adorado e feliz, que surgia como um lindo retrato nos recônditos da sua mente.

Na felicidade daquele encontro (exatamente como ele gostava de fazer em vida), disse, lembrou-se do marido, sozinho no cemitério, triste e infeliz, que buscava nos despojos do filho a vida que estava ali, ao seu lado. “Eu tive uma pena dele...” – declarou.

E é exatamente assim que eu me sinto com relação àqueles que não conseguem compreender a real dinâmica da vida, e aceitar que, independente da nossa crença, a vida continua, estuante e liberta, indefinidamente.

Buscando a lógica da vida, o que nos parece mais absurdo é imaginar que após estudarmos tanto, adquirirmos conhecimentos vários, estabelecermos várias formas de relação com grande número de pessoas e inscrevermos nossos nomes na história, por força dos nossos feitos – mesmo que seja na restrita história de um pequeno grupo –, tudo se acabe, de repente, sem nenhum sentido.

Cultuar os despojos, no meu entender, é prolongar o sofrimento e reavivar, a cada ano, a idéia da perda, da ausência e do nada. Festejar a vida, através da alegria e da oração, é fortalecer os sentimentos, viabilizar os canais de comunicação com os seres que amamos e estender ao infinito o afeto genuíno, encurtando distâncias pelos laços do coração.

Fundamentado em seus estudos e experimentações, sobre a comunicação dos ditos mortos através de aparelhos eletrônicos, o pesquisador baiano Clóvis Nunes afirma sem receio de cometer erros: Eles não estão lá! Os cemitérios não são hotéis de espíritos.

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