quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Sobre anjos e anjos


Vivemos o cansaço da razão. É o que declaram os filósofos e antropólogos dos nossos dias, segundo o padre Márcio Fabri. Por conta disso – e frustradas com o pouco avanço alcançado pela humanidade, apesar do progresso da tecnologia e da ciência –, explica, as pessoas estão procurando uma forma de se encantar de novo com alguma coisa

Como nos anos 90, os anjos voltaram a ser cultuados. Só que, dessa vez, com formas mais humanas e através de maneiras bem mais simples. Mas tem muita gente ganhando rios de dinheiro com isso...

Segundo uma revista de circulação nacional, esse “remix” da angeologia está promovendo uma readaptação de diversas áreas ao novo “filão”, que deu um incremento de 20% nos lançamentos de títulos de não ficção este ano.

Os livros que têm anjos como tema já representam cerca de 40% do mercado editorial esotérico: são mais de 70 títulos.

De acordo com a reportagem, a previsão é que em 2012 os anjos ajudem os seus autores a vender 25% a mais do que fizeram em 2011. Outros segmentos, como a astronomia, a astrologia, a cromoterapia, o Reiki e o Tarô, incorporaram os anjos às suas atividades para atrair público.

Repaginados, os enviados de Deus estão cada vez mais presentes na vida dos mortais exilados neste Planeta, e têm participado mais das situações corriqueiras do seu cotidiano também.

Segundo A Bíblia dos Anjos, da inglesa Hazel Raven – que já vendeu mais de três milhões de exemplares –, além de Rafael, Gabriel, Miguel e Uriel, já bastante conhecidos pelos místicos, agora tem o anjo da cozinha, o do estacionamento, entre outros que ajudam os seres humanos a realizar as tarefas mais prosaicas do seu dia-a-dia.

Não sou dos que descrêem do constante auxílio que recebemos dos mensageiros divinos, mas penso que essa nova roupagem dos anjos é mais uma tentativa de nos desviarmos das nossas responsabilidades e tarefas, enquanto filhos de Deus que também somos.

Infantis e preguiçosos, vivemos criando fantasias que nos dispensem das obrigações para conosco mesmos e com o nosso próximo, colocando sobre os ombros de alguém a responsabilidade dos cuidados, da proteção e das precauções, que devem, antes, partir de nós.

Os anjos não são seres destinados a atender prontamente os nossos caprichos, como queremos acreditar. Embora existam seres espirituais que se comprometem em nos auxiliar no nosso processo evolutivo, eles jamais irão fazer aquilo que nos cabe realizar. A sua ajuda é muito mais intuitiva do que efetiva.

Eles “sopram” o caminho, mas não empreendem a marcha pelos seus tutelados.

Ao invés de buscarmos sempre as saídas mais fáceis para os nossos problemas, ansiando por um colo que nos amoleça a alma, empenhemo-nos ao trabalho diário da melhoria íntima.

Ao invés de evocar os anjos para resolver questões pessoais – embora nada nos impeça de pedir inspiração e auxílio divinos no nosso dia-a-dia –, esforcemo-nos para ser um anjo na vida dos nossos irmãos menos afortunados e felizes.

E se quiser aproveitar o ensejo, amigo leitor, aproveite o Natal. Não há momento mais propício.

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