quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Fios de gente


(foto: Yvette Moura)

... disse que brigaram.
- Disse que rolaram no chão.
- Será?
- Disse que foi...
E assim seguia a conversa desacelerada das irmãs Martins, sempre a meio tom, num dialeto brejeiro que só os afins conhecem.

Deitadas lado a lado na cama grande, colocavam em dia as novidades enquanto esperavam chegar o sono da sesta. 

O papo começou logo nas primeiras horas do domingo, e havia apenas mudado de lugar. Primeiro foi na sala de estar e depois na cozinha; sentadas no sofá, em frente à TV; no banco do pomar, sob a caramboleira; e agora escorria sem pressa nos aposentos da anfitriã.

As personagens de suas histórias – acompanhadas aos pedaços pelas netas, que entravam e saiam do quarto achando a maior graça –, e a intricada trama que as unia, só elas sabiam e, talvez, só a elas interessasse também. 

Mas dava gosto ver a alegria de estarem mais uma vez em par, Dona Nega e Dedê.

Vinda do Maranhão, a mais nova enfrentou cerca de trinta horas de viagem rodoviária para passar uma semana com a primogênita (que é avó das minhas filhas), em Camaragibe, região metropolitana do Recife.

“Isso é o que ela pensa!”, cochicha pelos cantos, planejando usar a hierarquia etária para ampliar a estada da irmã em sua casa, e convencê-la, inclusive, a fazer um “chek up” enquanto estiver por aqui. 

Mas uma harmonia silenciosa rege a relação...

- “Dedê dorme com a mamãe”, determina Simone, tentando acomodar todo mundo no cômodo mais amplo da casa.

- “Dedê só dorme sozinha”, acode a primeira, que conhece a irmã muito bem.

- “Eu não sei dormir com ninguém – esclarece a tia, meio sem graça –, não sei por quê. Sempre fui assim”...

Olhando os “espigões” da Veneza Brasileira, na minha segunda semana de férias, especialmente os que cercam o apartamento de minha irmã Lucinha, no Espinheiro, reflito sobre a importância desses afetos que ultrapassam as armadilhas do tempo quase intactos.

As escolhas que fazemos no período da adolescência – filosofa meu cunhado Tarcísio, junto às meninas – são determinantes para o rumo que tomará a nossa vida lá na frente. 

Mas os verdadeiros afetos, penso, por mais distantes que possam ficar na linha do tempo, terão sempre a força de ser resgatados, como se representassem apenas uma vírgula nas nossas existências.

É o que percebo entre Maya, Jade e Luana, por exemplo, que se encontram poucas vezes no ano, mas logo dão continuidade à belíssima história de amor que vêm construindo desde pequenininhas. 

A chegada de Caio, ao invés de distanciá-las, uniu-as ainda mais. 

E assim também tem sido com as primas Bia e Júlia, filhas de Lucinha, que encontram apenas nas férias de verão.

Afetos são laços que nos unem e nos identificam, aonde formos, como membros de uma mesma família. 

Embora os encontremos dentro do lar, às vezes, não é exatamente o sangue que os determina. Mas a aproximação dos gostos, a semelhança na forma de olhar o mundo, o ideal compartilhado, os valores cultuados, experiências compartidas...

Uma afinidade construída com pequenas atitudes e singelos, mas significativos, gestos, ao longo dos tempos, que faz da vida uma preciosa teia de relações humanas, tecida sob os insuspeitáveis bordados de Deus.

@para os meus afetos, dentre os tantos que tenho, Luluka, Simon, Nê, Elô, Vera,  Tião, Serra, Sônia, Ana, Tê, Anuska, Luça, Bia, Ju, Jak, Gê, Serginho, Fafá, Gena, Zezé, Sávio, Nieta, Mamá, Dé, Allan, Liliu... E mais, mais, mais...

Um comentário:

Jade Neves disse...

Ficou lindo, mami! Te amo!!!