quarta-feira, 20 de junho de 2012

Coisas boas - Parte II



Mas também cantarolar uma canção que gosta enquanto espera andarem os carros, distraidamente, naquele engarrafamento de todos os dias, e olhar para o lado, sorrir para o acompanhante, ou o motorista do outro carro, compartilhando com ele um momento tão nosso...

E fazer um gesto amistoso para o colega de trânsito, como a lhe pedir desculpas pela “barbeiragem” cometida por conta da pressa, ou num excesso de velocidade, por pura distração...

Também cumprimentar o usuário do transporte coletivo, que espera ao nosso lado pelo mesmo serviço (estamos no mesmo barco!); e exercer as lições básicas da boa vizinhança, e da educação doméstica, com o outro passageiro, o cobrador, o motorista, o transeunte...

E ceder o assento para os idosos, as gestantes, as pessoas com crianças, lembrando que um dia chegará a nossa vez de ser tratado com deferência.

Está na hora de adquirirmos um jeito mais doce de olhar o mundo, uma maneira mais terna de encarar as 
pessoas, reconhecendo em cada uma delas alguém tão passível de cometer falhas, fazer escolhas equivocadas e tomar atitudes erradas quanto nós.

Permitir-se pedir desculpas, portanto, se for esse o caso, será sempre oportuno; e estender a mão, dar o primeiro passo para a reconciliação, favorecer o reajuste...

Afinal, a dor que incomoda aqui dentro também inquieta lá fora – expressa nas inadvertidas ações humanas –, mesmo que continuemos a usar máscaras, uns para com os outros, nas relações sociais.

Mas também preparar aquela comidinha – simples, mas saborosa – para quem a gente ama; e arrumar a mesa, o ambiente, a casa, a “cara”, para quando o outro chegar. E abrir os braços para acolher o filho que chora, o amigo que nos busca, o companheiro que nos espera, o estranho que pede esmola...

Também sair de dentro de nós mesmos, da nossa comodidade, para visitar um doente, levar alimento ao faminto, levantar o caído; deixar que saiam da nossa boca apenas palavras de incentivo, e dar ao que sofre um motivo novo para seguir vivendo.

Mas também calar quando for preciso; parecer ausente quando o momento pedir; passar despercebido para que a obra apareça ou para que outros ganhem destaque e sejam reconhecidos.

Afinal, as coisas boas da vida não são apenas as que nos trazem algum benefício particular ou as que nos proporcionam, pura e simplesmente, um egoístico bem estar. Mas as que nos dão trabalho, as que exigem um pouco mais de nós: um pouco mais de esforço e compreensão; um pouco mais de suor e dedicação...

Sendo assim, parece-me muito oportuno lembrar as palavras imorredouras e sábias de Francisco, il poverello di Assisi, que aprendeu desde muito cedo, sem eleger para si um amor particular, que é dando que se recebe.

Pois as boas coisas da vida só serão benéficas e positivas, de verdade, se nos mantivermos de coração aberto para compartilhar.

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