segunda-feira, 23 de julho de 2012

Presença de Deus


(foto: Yvette Moura)
Nesta manhã chuvosa de inverno, eu amorno o meu olhar e lanço-o para além das janelas, debruçando-o sobre o horizonte e consagrando a tudo que ele abarca o meu mais profundo respeito e admiração.
O céu cor de cinza; o mar revolto; as gotas de chuva movidas pelo vento contra o para-brisa do carro – como lanças invisíveis, que eriçam a copa das árvores sem ferir a folhagem... As coisas de Deus se associam às dos homens numa belíssima parceria, indispensável parceria, anunciada desde os primeiros tempos da vida humana na Terra.
Carros que vêm e vão; ruas pavimentadas; casas bem talhadas; prédios que crescem para o alto... Eu não reverencio o homem pelos seus grandes feitos. Mas me curvo diante da grandiosidade do Provedor Celeste, que dotou os humanos de privilegiada inteligência e discernimento para ajudá-lO na administração do mundo.
Reverencio a riqueza e a diversidade de Sua obra, que faz de nós – seres maiores da natureza –, ao mesmo tempo, criatura e criador.
Reverencio a generosidade divina, que nos permite gerar os corpos de seus filhos, e gerir os seus destinos, esculpindo os seus caracteres – erroneamente, muitas vezes – à nossa imagem e semelhança.
Reverencio a Sua paciência paternal, que nos aguarda vencer as amarras da ignorância, baixar a crista da vaidade e do orgulho, e ultrapassar os maiores obstáculos até adequar a própria vontade aos planos do Grande Arquiteto do Universo.
Admiro, sim, a capacidade que há em cada um de nós de se fazer grande, ampliando as próprias forças e ultrapassando os próprios limites a fim de lutar pelos menos favorecidos, estendendo aos nossos semelhantes o nosso potencial criador.
Admiro o poder que cada um possui de se recompor após as tempestades, e fazer renascer das cinzas, ainda mais forte, a alegria de viver, a esperança no futuro e a confiança em si mesmo e na Inteligência Suprema.
Admiro, sim, a força que nos impulsiona a todos, de dentro para fora e de fora para dentro, à busca de si mesmo, ao autoconhecimento e ao reconhecimento dos nossos semelhantes como verdadeiros irmãos.
Confio plenamente na vontade soberana do Pai da Vida, que dá e pega de volta no tempo certo, e nos oportuniza infinitas vezes o ‘começar de novo’ até alcançarmos a plenitude e a perfeição.
Confio no halo divino que nos sustenta a vida, desde o princípio até a eternidade, na mesma intensidade em que me alimento no auto-amor – que nos inspira a sustentar o equilíbrio e seguir sempre em frente (nas noites difíceis como nos dias de facilidades, nas horas infelizes como nos instantes fugazes daquilo que chamamos “felicidade”).
Um dia como este tem o poder de iluminar a minha vida e fazer repousar minha alma num sono reparador: como se amparada estivesse por um ombro amigo em um momento de profunda angústia ou extrema solidão.
Pois materializa de forma mais contundente, às vezes até temerária, a imponderável – mas, inegável – presença de Deus.
* crônica publicada na edição de 18 de julho de 20012 de O Jornal (Maceió-AL).

Um comentário:

Anônimo disse...

yvete querida, só uma sensibilidade dada por deus, faz fluir tão bela mensagem.
obrigada por nos presentear com esse texto e parabéns.
um abraço afetuoso.

Iraiula