quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Além de mim...


O sorriso nos lábios, as mãos estendidas em gesto acolhedor, a porta entreaberta... Nada conforta mais do que saber-se esperado por alguém com quem se pode dividir um pouco o peso dos dias e as expectativas de futuro, sejam alvissareiras ou não.

Para compartilhar um problema, sorrir um pouco, caminhar a esmo ou empregar simplesmente um pedaço do dia numa conversa molenga, que nos ajude a seguir em frente apesar das dificuldades... O que seria de nós sem a amizade?

Desconfiados e arredios, estamos cada vez mais refratários nos dias de hoje, preferindo muitas vezes as amizades virtuais – que não nos julgam nem nos conhecem a fundo, podendo, inclusive, ser “deletadas” a qualquer momento.

As amizades verdadeiras – aquelas construídas com pequenas porções de dedicação, e fortalecidas por pitadas sutis de tolerância, retalhos de paciência, nacos de compreensão, e o exercício contínuo de solidariedade e cooperação –, que surgiam das situações mais inusitadas, ou entre vizinhos próximos, estão sendo relegadas ao segundo plano.

É a tecnologia substituindo o contato físico, o olho no olho, o tête-à-tête, o ‘ao vivo’ e ‘em cores’ dos encontros reais...

Infelizmente, as frustrações, que perpassam os relacionamentos humanos, já não servem mais ao amadurecimento das amizades duradouras, mas à maledicência e ao afastamento imediato.

Como uma amiga minha, que pedia e devolvia a fotografia dos mais próximos de acordo com as suas altercações de humor e as rusgas que vez ou outra surgiam nas suas relações afetivas. Para ela não havia meio termo: era amar ou odiar. Compreendi isso quando me devolveu o livro que lhe havia emprestado, com a minha fotografia entre as páginas. Daí por diante passei a desconversar todas as vezes em que me pedia outra foto para afixar no mural do seu quarto. 

Mas o que seria de nós se não fossem os amigos?

Parei certa vez para tomar um café, na orla da Pajuçara, enquanto ruminava os problemas que me fervilhavam à mente. Tudo o que queria era sentar sozinha e ficar por ali, sorvendo o meu pretinho, sem ser incomodada.

Cheguei ao balcão e pedi o cappuccino de sempre. Mas, antes mesmo de registrar o pedido, a atendente olhou para mim e soltou à queima roupa:

- Você tem amigos?

- Tenho. Respondi sem pensar, embora a certeza de alguns poucos nomes guardados à conta de irmãos.

Mirando o horizonte, seus olhos se encheram d’água e eu a ouvi dizer, como se declarasse a si mesma, “eu não tenho um amigo!”.

- Agora tem. Retruquei de imediato, como quem se antecipa ao prêmio que lhe será ofertado em seguida.

Naquele instante, toda a minha programação perdeu o sentido e eu tive a certeza, pura e cristalina, do que devia fazer: dei um passo para o lado e fiquei ali mesmo, tomando o meu café à beira do caixa, enquanto Patrícia me contava a sua história e, assim, ia dispersando as densas nuvens que trazia na alma.

Ficamos amigas. E ainda hoje me lembro, com imensa ternura, das inúmeras vezes em que nos consolamos mutuamente. Aprendi, naquele dia, o que Joanna de Ângelis assevera no excelente O Homem Integral – “o homem solidário jamais se encontra solitário” –, colocando no amor ao próximo a chave primeira para a plenitude.

@para aqueles verdadeiros anjos sem asa que me ampararam nas noites escuras.

8 comentários:

jovieira50@hotmail.com disse...

Oi, amiga, qto tempo? Andei afastada do meu blog, to retornando aos poucos e me familiarizando com as novas postagens do seu. Chegar em casa,encontrar um sorriso,braços abertos, ainda não dá, rsrsrs, pois moro só; o que sinto é a presença DIVINA o tempo todo.Concordo que o computador está afastando as relações reais,tirando-nos o prazer do "estar com a pessoa".Solidária sempre fui e sempre serei,tá no meu âmago, aprendi vivendo só, há mais de 20 anos.Tens face? Estou indo para Maceió sábado para fazer concurso TJ no domingo;seria tão bom podermos nos ver, se você quiser, é claro, rsrsrs; não sei qual bairro vou ficar,é casa da família do meu ex.Meu face é: JOELMA JO VIEIRA.Um abraço e fica com DEUS!

Yvette Maria Moura. disse...

oh, querida, adoraria te encontrar, mas neste fim de semana estarei em Recife para comemorarmos o aniversário da avozinha das minhas filhas. mas vamos ver se a gente ajusta as nossas agendas e dá um jeito de se encontrar, com certeza. vou entrar no teu facebook.
muito feliz em te encontrar por aqui!
bjo.

Anônimo disse...

excelente mensagem, amiga querida! sempre sutil e tocando nos pontos necessários. parabéns pelo artigo de hoje!

bjs,
Iracema.

Anônimo disse...

!!! Essa historia Iluminou o meu dia Yvette. Paz e bem.


Cláudio Silver.

Anônimo disse...

nossa yvette, que coisa mais linda esse texto. sensível e verdadeiro!!

Cleide Oliveira.

Anônimo disse...

Yvette querida, vc sempre maravilhosa nos seus commentários,no que vc escreve! Parabens amiga, por este coração sensível e esta alma grandiosa! Obrigada por estar entre nós.Obrigada por ser minha amiga. Eterna com certeza, é a nossa amizade!Bjos.
Conceição

Anônimo disse...

pensei no seu texto hoje yvette reencontrando grandes amigas que tenho desde a infância. parece q o tempo n passa.

Carol Sanches.

Anônimo disse...

linda tenho muito orgulho de dizer que voce é minha irmã
simone.