terça-feira, 13 de novembro de 2012

Fazendo as contas...



Numa tarde silenciosa, um coração em brasa queima irrequieto querendo se expressar. Mas em meio a tantos sentimentos, que poderiam preencher páginas inteiras como esta, tudo silencia e passa, inconstante em si mesmo. 

Sobre o que falar?

Ah, a vulnerabilidade natural das coisas nesse mundo de formas e sombras! O desencanto, as frustrações, as inseguranças várias que nos inquietam e ameaçam o bem-estar... 

Assim como as formas que se desfazem na matéria moldável da carne, sujeita irremediavelmente à ação do tempo. Pelas experiências, nas intercorrências do viver em si... Ai, de mim.

E quem passa pelo mundo com os olhos no passado, lembrando a saia comprida das moças, que varriam o chão batido do passeio, e o cumprimento sedutor dos rapazes, com um menear da cabeça e olhos compridos? Ai, ai...

E quem corre contra o tempo com os olhos fixos no futuro, atropelando os dias, vivendo pela metade, se impondo a sacrifícios desnecessários para construir o seu castelo dourado sobre as bases insólitas de um tempo que pode nem chegar? Ai, de mim...

Que não construo porteiras entre ricos e pobres, brancos e índios, loucos e lúcidos, simplicidade e beleza. Eu que insisto em salvaguardar a alma dos caprichos da matéria, transpirando distâncias, embora conserve o hábito das portas abertas. Ah...

Onde a segurança de passar pela Terra e chegar ao fim desse caminho sem nenhum arranhão? 

Onde a certeza sobre o que quer que seja, quando o rumo das coisas nem sempre está subordinado ao nosso controle? 

Onde a paz de espírito que veste as cabeças pintadas em neve de certos anciãos? 

Onde o estreito canal que une sentimento e razão? 

Onde o instante definitivo que estabelece o amor em detrimento da dor?

É preciso conduzir a vida com mais leveza e alegria. Sem tantas exigências sociais e práticas exteriores. Mas com entusiasmo, consciência e compromisso.

Os dias devem ser encarados como o que realmente são: breves intervalos de tempo, sequenciados, com tarefas a cumprir, problemas a resolver e alguns desafios a enfrentar. Vencido um ciclo, outro começa, e logo outro mais adiante virá. 

E assim a vida segue sem muita alteração.

O ideal é não acumular trabalho. Tarefas, problemas, desejos e questionamentos vãos pesam, angustiam e roubam a alegria de viver. 

Periodicamente, é recomendável que se faça uma faxina mental: ver o que foi quebrado, e se pode colar; botar fora o que está estragado; discernir sobre o que cabe ou já não nos cabe mais; analisar o que está sobrando em nossa vida. 

Por singelo que pareça, esse balanço irá fazer toda diferença no resultado final.

Ao fim de cada ciclo a vida segue em frente, e nós trilharemos mais leves o caminho e os percalços que lhe são inerentes.

Mas tem que ser periódico, como se fora previamente programado ou quando algo relevante nos aconteça e abale as estruturas. Até fazer parte da nossa rotina, como se banhar e dormir.

A ideia é fazer disso um hábito, como a boa alimentação e o condicionamento físico. Afinal, condicionar a alma ao autoconhecimento, e à reforma íntima, é o melhor investimento para a economia espiritual.

2 comentários:

Paulo Patriota disse...

Belíssimo esse texto, essa alto-análise nos permite tirar mazelas e melhorar sentimentos, assim, chegaremos no final do dia ou da vida bem melhor do que começamos.

Fernando Caldas disse...

O tempo, como o fiel da balança de DEUS, nos exige o constante fazer contas. Mister estar atentos para não confundirmos o fazer contas com o fazer de contas. Beijos Yvettisima. Vc como sempre a poetisa da prosa.
Fernando Caldas