terça-feira, 15 de outubro de 2013

Anotações

e eu, que ando meio calada, faço uso da poesia do amigo Samarone Lima para compartilhar as "anotações" que não tenho feito ultimamente. Porque até os meus dedos, tanto no teclado quanto no manejo da pena, andam meio fastiosos...
Um abraço.
(foto: Yvette Moura)

Anotações

 

Anoto a vida.

Não sei se é poesia, o que faço

Se é o puro mormaço
Das ruas do Recife
Das ruas do passado.
 
Anoto o que dizem
O que me cala
Anoto o dízimo do dia
O olhar opaco
De quem vai porque vai
De quem não tem porque ir.
 
Anoto essa mão estendida
À espera de tudo
Essa boca que se desespera
E lambe o escuro.
Anoto minhas roupas penduradas
Num varal de 1976
(era noite clara e podia vê-lo
pelo barulho do vento).
 
Anoto a vida.
Não sei se é poesia, o que faço
Se é puro cansaço.
Anoto o que me escondem
O que sequer nasceu
Mas tem sobrenome.
Anoto o que disseram ser meu.
 
Um dia
Deixarei um silêncio
Sem ponto final.
Um silêncio meu
O último
E a busca da poesia
Terá terminado.
 
Samarone Lima.

2 comentários:

Anônimo disse...

Não há fastio para quem tem o seu talento. Sua inteligência, sensibilidade e olhar estão acima de tudo. Escreva, escreva, escreva. Precisamos do seu olhar...

Cláudia Galvão

Anônimo disse...

Ansiosa pra que esse fastio vá embora e eu possa ler suas belas palavras, mainha! Mas tudo tem seu tempo! Fica em paz

(saudades)

Elayne Pontual.