quinta-feira, 1 de junho de 2006

Compromisso ou comprometimento?

Porque o amor está sendo malbaratado pela maioria,
os relacionamentos estão ficando frouxos, laços difíceis de atar...

É tolice acreditar que se conhece a fundo aquele que chega espalhando sorrisos no primeiro momento da conquista. Palavras bonitas são fáceis de se achar em bocas descuidadas. Criaturas levianas, os mimos que por ventura trazem no espalmar das mãos são iscas, atrativos fáceis que se pode encontrar em lojas de departamento e nas conveniências da vida...
O tom modulado da voz é milimetricamente estudado. Mas quando os dias se passam e a máscara cai, surge o olhar dissimulado desses conquistadores profissionais. Aliás, é o prazer da conquista a emoção que lhes move a alma.
Para ganhar um coração são capazes de dizer e escrever as coisas mais bonitas. E as desavisadas de plantão se entregam sem enxergar o abismo que as espera por trás do ser infantil e vaidoso que se lhe aparece na frente, vestido de príncipe encantado.
O verbo adocicado lhes corre fácil da boca e é usado para atrair o seu objeto de desejo com promessas que jamais terão coragem de cumprir. Mas o doce se torna amargo assim que passa o transe inicial. Uma vez de posse de sua presa, aparecem-lhe os dentes afiados, as garras se mostram desafiadoras, como que por encanto, ou melhor dizendo, em um terrível desencanto, e a voz se torna dura e fria, como a de um animal feroz.
Como num conto de fada às avessas, são príncipes que viram sapos e devoram a noiva com sua língua imensa, cheia de uma gosma letal.
Pode parecer perversa a visão que trago sobre a maioria dos relacionamentos da atualidade, ou limitada até. Mas tenho visto o olhar frouxo dos que ficam perdidos depois de serem ludibriados por um desses ladrões de coração.
Pode parecer exagerado, mas é incrivelmente real. E acontece com maior freqüência do que se imagina. E causam tantos estragos, quanto maiores forem os sonhos construídos sobre os pilares falsos da ilusão.
O encontro entre dois seres é mais do que a volúpia momentânea de corpos que se atraem com avidez e pouca responsabilidade; é maior do que o silêncio egoísta de quem, simplesmente, dá as costas e bate em retirada sem a menor satisfação... Sem comprometimento.
Nos dias atuais nunca foi tão oportuna a frase imortalizada por Saint-Exupéry, na voz do Pequeno Príncipe: tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Porque o amor está sendo malbaratado pela maioria, os relacionamentos estão ficando frouxos, laços difíceis de atar... Em uma relação, os dois assumem um compromisso, mas parece que apenas um está comprometido.
Então responsabilidade tem se tornado uma palavra com pouco significado no quesito relação afetiva. Quase sempre, as pessoas vão magoando umas às outras sem se darem conta disso. E, infelizmente, já não se pode dizer que esse comportamento, hoje, somente acontece no universo masculino...

Um comentário:

Yvette Maria Moura. disse...

transcrevo aqui as palavras que um leitor me enviou, pedindo que fossem postadas aqui, em forma de comentário:

Cara Maria Moura,
Concordo com seu post "Porque o amor está sendo malbaratado pela maioria,
os relacionamentos estão ficando frouxos, laços difíceis de atar...".
Como bem observou no final de seu texto, não são somente os homens que nutrem esse tipo de relacionamento. Há incentivos de todo lado para tal forma de "conhecimento".
Ernesto C. de Sena