domingo, 28 de maio de 2006

Entre o céu e o inferno

Meu querido,
Foram-se as chuvas e o céu permaneceu assim, meio nublado. Talvez por isso, sobrem em mim arroubos de saudade, lágrimas contidas, suspiros vãos...
Até as palavras que eu nunca proferi querem, de repente, aflorar à minha voz...
Mas o que escrevo hoje está longe de ser uma reclamação ou puro saudosismo, ouviste? Escrevo-te porque me dá prazer, sempre um prazer tão grande tecer algumas linhas endereçadas a ti, que é como se tecesse com os fios mais finos do meu coração a nossa colcha de retalhos, em que estariam estampados os nossos momentos mais felizes...
Sabe, João, é sempre muito bom saber que posso contar contigo também nesses momentos, em que aparentemente a solidão vence a fé e a distância entre nós parece maior...
Sei que entendes bem o que eu digo, meu querido, por que sinto que também estás só, ainda que rodeado por pessoas conhecidas...
Anota o que eu digo, João:

A solidão é esse estado de espírito que tanto pode nos enlevar aos jardins do céu, quanto nos fazer descer ao mais miserável dos desertos humanos.

Aprende, querido, que na vida só vale o que se vive com entrega e desprendimento, com paixão e intensidade, com amor e entendimento. O resto é fantasia pura, é ilusão...
Ainda bem, João, que nos encontramos a tempo. E que soubemos dedicar o nosso tempo a descobrir um no outro o que há de bom. Para o resto, meu querido, o que há em ti que não me agrada, eu não fecharei os olhos, mas quero olhar de frente, com compaixão...

Porque o amor só é amor se houver entrega.

Então te mando meu beijo, distante, porém distinto, em nome dos momentos felizes que ainda vamos compartilhar.
Tua Maria.

2 comentários:

do ás ao rei disse...

Palavras que ecoam não distante das minhas dores.
Dos amores que se vão, instigam-me a amargar a solidão.
São fortes e férreas, sinceras e urgentes.

Parabéns MM, e obrigado!
Ás

Everson Belo disse...

Muito bonito o texto e, realmente, a distância é como uma faca de dois gumes, mas... sabendo "usá-la" tudo dá certo, no final. Existem instantes que não, mas tbm existem momentos em que "os fins, realmente, justificam os meios". Everson Vieira Belo