terça-feira, 11 de julho de 2006

O vôo da borboleta

Há uma diferença grande entre sentir amor e amar. Eleger alguém para objeto de um sentimento ou envolver essa criatura no mais puro afeto. Assim como dista saber-se ‘vivente’ de sentir a vida pulsar em plenitude, no mais profundo da alma.
Como diferem o movimento do pássaro livre (que enche o mundo de poesia) da vida da aranha, que permanece estática horas a fio à espera da presa. Ou a lagarta, que se permite à escuridão do casulo para processar a íntima transformação e renascer com graça. Diferente da cobra, que nasce e morre rastejante. Vive e cresce causando sustos e destilando veneno.
Há pessoas que passam uma vida inteira sem externar os sentimentos, sem ocupar-se com os problemas alheios, sem abrir-se para o que quer que seja. Freqüentemente, o que chamam ‘falta de tempo’ pode-se dizer orgulho, egoísmo, ou mesmo, comodismo.
São vidas que encerram a vida em si mesmas, sem enxergarem nada além do próprio umbigo, das próprias dificuldades. Movimento contrário ao amor divino, que se oferta a cada um de nós, diariamente.
Tal qual a lagarta que experimenta várias fases e atinge a plenitude como borboleta, a sucessão das vidas na trajetória do Espírito objetiva o aprendizado; das dores no dia-a-dia do homem, a construção do solo emocional que dará sustentação às provas vindouras. E ninguém está isento disso. Ninguém pode burlar o mecanismo educativo criado por Deus, rumo à evolução.
O fato é que quanto mais nos esquivamos do aprendizado que bate à porta, através da dor, mais frágeis ficamos diante das intempéries da vida, dos obstáculos. E menos aptos nos tornamos a lidar com as dificuldades que aparecem, indistintamente, na construção do Ser.
O amor precisa criar uma ponte para tornar-se útil. Sair do coração de quem ama para o coração do ente amado. Transformar-se em gestos e ações para o bem estar do ser querido. Seja ele uma pessoa, ou várias, ou uma causa.
O amor precisa ser posto em movimento. Por que do mesmo modo que constrói, torna-se destrutivo. Quando é egoísta. Quando responde ao desejo de posse, pura e simplesmente. Quando se limita aos objetivos escusos do orgulho ou da preguiça.
A vida também exige trabalho e esforço íntimo para valer a pena. Labor e suor para tornar-se bela. Cuidado e coragem para ser construtiva. Lágrimas e sorrisos para seguir em equilíbrio.
Viver não é mais fácil para uns do que para outros. Consideremos isso. O que aos nossos olhos parece moleza, na vida de alguém pode representar luta e sacrifício. O que venha a ser merecimento para outrem, fruto de suas conquistas, pode ser, para nós, um patamar ainda distante de ser atingido.
A vida de uma lagarta, por exemplo, não é mais fácil do que a de um réptil. Mas ela se permite ao casulo. E, ao contrário do que se possa pensar, há luta e dor nesse processo. Se tiver força e coragem, o inseto vence a escuridão e ganha o colorido dos campos com as asas que conquistou. Se não, apodrece e morre, encruado em si mesmo.
Assim também somos nós. Precisamos nos olhar de frente e buscar o autoconhecimento, sem medo. Detectar o que ainda está falho e começar a reforma. A autotransformação. Extirpar a escuridão que ainda há em nosso interior, iluminando as sombras com a luz do amor. O autoamor e o amor de Deus.
Só assim, nesse processo de conquista intima, é que nos libertaremos dos erros e de velhas amarras. Mas para tanto, como diz São Paulo, é imprescindível a ação da vontade. É o desejo de nos tornarmos melhores que faz com que tudo isso aconteça.

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