sábado, 1 de julho de 2006

Somos todos brasileiros

Quando sentei para escrever essa crônica, a pergunta que me fiz foi instintiva: o que uma mulher poderia comentar sobre jogos de futebol? Por que era sobre esse tema que eu queria falar...
Que me perdoem as mulheres que são fãs dessa modalidade esportiva, mas acho que futebol não é mesmo coisa do gênero feminino. E debruçar-se muito sobre suas regras é perda de tempo. Afinal, alguém tem que ‘não saber’ para dar aos homens a ilusão de que sabem. Eles adoram isso!
Algumas mulheres poderiam dizer que esse é um pensamento machista. E é. Outras, tirar da bolsa (bolsa de mulher tem de tudo) todo um discurso feminista. E blá, blá, blá. Mas nada iria conseguir me demover dessa opinião.
Porque não há coisa mais chata do que uma mulher metida a juiz de futebol, fazendo todo aquele barulho que os homens fazem para comentar um lance ou uma partida polêmica. Xingar jogadores e falar da mãe do juiz, então, nem pensar.
Gosto mais do barulho que as mulheres fazem na torcida. Da sua alegria estampada nos adereços e nas roupas coloridas demais. Ou ainda da confusão de pernas e braços das fêmeas num amistoso improvisado. Por pura diversão. Já as regras confusas, que nem mesmo eles conseguem definir a contento, é lá pro universo dos machos.
A nós, mulheres, basta um conhecimento básico. O suficiente apenas para conseguirmos concentrar a atenção, alguns poucos minutos, no percurso da bola. O tempo restante pode ser dispensado ao nosso olhar periférico. Percorrer o ambiente, as pessoas, e coisa e tal. Para só voltarmos ao jogo na hora do gol. Afinal, não é isso que conta mesmo?
Confesso que entendo pouco sobre futebol, embora não seja das piores. Falta paciência de seguir com os olhos aquela coisinha branca e redonda por quase duas horas. Como pode um brinquedinho ingênuo desses chamar tanta atenção?
Como se pode presumir, não gasto o meu tempo a frente da telinha para assistir a uma partida desse esporte, por mais importante que ela seja. Ir ao campo, então, só a trabalho.
Definitivamente não acompanho campeonatos nem sou afeita a torcidas que vão além da alegria, sem falar dos comentários e das discussões acaloradas sobre o tema, como se isso fosse uma questão de vida ou morte.
Outro dia um colega radialista resolveu me entrevistar em pleno jogo, enquanto eu fotografava:
- Minha amiga Yvette, disse ele com um ar malicioso de quem já conhecia a minha distração, como está o jogo?
- O jogo está bom. Respondi tentando me desviar de qualquer armadilha.
- Bom pra quem? Insistiu ele.
- Pra quem tá ganhando. Respondi, sem demora, para fugir daquela saia justa.
Confesso, no entanto, que todos os meus argumentos vão por água abaixo quando se trata de Copa do Mundo. Ver os brasileiros ali, representando toda uma nação e criando uma expectativa internacional em torno de si, é algo que desperta os mais ínfimos fios do meu patriotismo. Escutar o nosso hino e saber que ele está sendo ouvido por milhões de pessoas de todo o mundo me leva ao delírio. Que diria então do gol e da vitória?
Num instante, baixa a técnica, a juíza e a atleta numa pessoa só. Se possível, assisto ao jogo de tênis para me sentir mais próxima dessa realidade... A torcedora, então, nem se fala. Eu me permito aos gritos, aos pulos com braços erguidos para o alto e todo um figurino verde e amarelo, que é para externar o meu orgulho. E aí já nem importa mais aquela discussão de gênero: homens e mulheres, somos todos brasileiros.

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