terça-feira, 15 de maio de 2007

A vida sempre!

É presunção pensar que temos o poder de mudar o rumo de certas coisas. Os encontros, as despedidas e tudo mais que nos acontece além da nossa vontade, segue o ritmo natural da vida. E a vida é dinâmica, tomando muitas vezes um direcionamento diferente do que desejamos. E nem os amores, nem as saudades, ou mesmo a morte, impedem que ela siga, conduzindo os seres a uma marcha contínua e progressista.

Recordo do quanto desejamos, eu e meus irmãos, ter nossa mãe conosco por mais tempo. Mas sua vida se esvaiu de nós, como a água que escorre pelos dedos de quem mata a sede com as mãos. Em fevereiro de 2001, minha mãe foi levada às pressas para o hospital por conta de um tombo que levara na porta de casa. Estava consciente e respondia às perguntas dos médicos com desenvoltura. Mas isso não a impediu de entrar em coma no dia seguinte, sem ter tido tempo de se despedir da família ou de nos dar um sinal qualquer de que não voltaria mais a nos ver com os olhos da carne...

Seguiu-se dois meses de angústia, incerteza, saudade, cansaço, até que aceitássemos o correr natural da vida e começássemos a pedir que fosse feita a vontade de Deus e não a nossa. Eu mesma já não entendia por que ela se demorava tanto para partir. Só depois é que compreendi que o seu apego à família era o grande entrave para o desenlace. Afinal, sempre foi muito ligada aos filhos. Mais jovem, andava com os seis em volta de si para onde quer que fosse. Em Canhotinho, nossa cidade natal, era comum encontrá-la na missa dominical acompanhada de suas crias.

“Parece uma galinha rodeada de seus pintinhos”, brincava Dr. Teófilo, seu compadre.

Igual a tia Maria, irmã dela, que só se despediu da terra depois que o filho caçula, Cláudio, que não dava notícias há anos, telefonou para nossa casa para saber o estado da mãe. Antes que sua irmã viesse atendê-lo, uma voz feminina desenvolveu com ele o seguinte diálogo:
- Cláudio?
- Oi?
- Você está bem?
- Estou.
Intrigado com aquela voz, meu primo perguntou a Cleudenice quem era a senhora que havia lhe falado minutos antes. “Não há mais ninguém aqui!”, respondeu ela. Os outros estavam no hospital, assistindo minha tia em seus últimos instantes...

Seja lá em que circunstâncias for, o amor ultrapassa os limites da carne. Por isso, os desvelos maternais se perdem nas linhas da Eternidade. Sendo a experiência que mais se aproxima da relação do Criador conosco, segundo Emmanuel (mentor espiritual de Chico Xavier), “a maternidade é sagrado serviço espiritual, aperfeiçoando qualidades do sentimento”.

Cabe a nós, refletirmos melhor sobre o convite que chega ao seio da humanidade através do coração feminino: As mães não devem desistir NUNCA dos filhos que Deus lhes confiou a guarda.

E nesse momento em que a ignorância humana levanta a bandeira da legalização do aborto como solução para os problemas que cabe ao Estado resolver, gerindo um sistema de saúde que efetivamente cuide do bem estar do cidadão brasileiro, cabe a nós, inspirados no Pai da Vida, também dizermos NÃO a essa aberração da natureza – ato ignóbil da soberba do filho egoísta, que responde com a morte ao apelo de vida do Pai.

Ninguém tem o direito de impedir a vida ou de arrancá-la, por qualquer conveniência que seja, sem incorrer, com isso, em sérios comprometimentos para com a Consciência Maior – criadora e mantenedora de todos os seres. Pois, a ligação do espírito que vem animar o corpo que está se formando com a mãe que vai recebê-lo como filho se dá, muitas vezes, antes mesmo da concepção.

Como diz o grande poeta árabe, Gibran Kahlil Gibran, “os nossos filhos não são nossos filhos; eles são filhos da ânsia de vida que chega até nós”.

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