terça-feira, 25 de dezembro de 2007

O verdadeiro Natal

Porque o exercício do amor é o sacrifício mais agradável a Deus...

“Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas; no entanto, só uma coisa é necessária. Maria escolheu a boa parte, que não lhe será tirada”, disse Jesus à amiga (Lucas, 10:41/42). Ela reclamava a ajuda de sua irmã, que se quedara aos pés do Messias para escutar Seus ensinos. Enquanto isso, Marta corria de um lado a outro preocupada com os afazeres domésticos, preparando a casa para hospedá-Lo.

Não quis com isso, Jesus, criticar o espírito laborioso e hospitaleiro da irmã de Lázaro, cujos cuidados foram tão importantes também para o Cristianismo nascente. Ele combatia a ansiedade que nos faz exaurir as forças em preocupações puramente materiais, num enfado que adoece o corpo e a alma. Ele combatia os cuidados excessivos com as coisas exteriores, que nos distanciam do que verdadeiramente importa para o espírito em ascensão que somos, como o aprendizado do amor e a prática do Bem.

Esta passagem me vem à mente enquanto observo o corre-corre das pessoas para incrementarem a festa natalina. Bem poucas se curvam à figura do Cristo e a Ele dirigem alguma palavra em forma de prece, num desejo sincero de lhe render homenagem, ou, ao invés de esperar um presente de alguém, faz-se o próprio presente para alguém que não lhe possa retribuir.

A maioria, sem compreender bem a causa da festa, veste roupa nova, troca presentes e se entrega aos excessos da carne, buscando o prazer imediato e uma resposta compensatória para tantos preparativos. Outros se isolam, sentindo-se rejeitados e esquecidos, ou simplesmente por acreditarem que não têm motivos para comemorar. Cultivam sentimentos de autocomiseração, mas são incapazes de fazerem o Natal de alguém menos afortunado um dia mais feliz.

Embora se perceba já um movimento crescente de pessoas que se esforçam para modificar o entendimento sobre a festa natalina – trocando o culto ao Papai Noel pela celebração do maior episódio já ocorrido no seio do nosso planeta, que foi a vinda de Jesus –, muitas criaturas há, ainda, que permanecem na inconsciência e na ignorância, embora exibam diplomas e títulos de reconhecida intelectualidade.

Recordo-me da parábola criada pelo teólogo e escritor americano Henry Van Dyke sobre o quarto rei mago, um homem de coração manso e espírito indomável. Como os outros três, este, que morava nas montanhas da Pérsia e era um idealista, vira a estrela nos céus e compreendeu que estava próxima a chegada do Grande Profeta, que traria vida eterna e incorruptível aos homens de boa vontade.

Trocou tudo o que tinha por três jóias, uma safira, um rubi e uma pérola, para presentear aquele que seria o Rei dos Judeus e partiu em caminhada. No percurso, antes de se encontrar com os outros, no entanto, a luz da estrela lhe revelou a figura de um homem caído entre as palmeiras. Tocado de compaixão, embora o conflito que se instalaria sempre em seu coração dali por diante - entre a fé, a esperança e o impulso do amor - , parou para ajudá-lo, atrasando-se em muitos dias...

Seu trajeto foi marcado por situações semelhantes, em que acabou se desfazendo das jóias para atender aos apelos dos inúmeros necessitados que lhe surgiram pela frente, chegando sempre atrasado aos lugares por onde Jesus passou.

Trinta e três anos depois de iniciada a sua caminhada para saudar o Menino Rei, cabelos brancos, corpo alquebrado, o homem trazia as mãos vazias. Sentindo-se falido em seus propósitos, despedia-se da vida pedindo perdão a Jesus por nunca tê-lo encontrado, quando ouviu, dos céus, uma melodiosa voz que dizia ter estado sempre com ele: - Em verdade, em verdade vos digo que tudo o que fizestes a cada um dos meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes.

E o homem partiu feliz. Porque o exercício do amor é o sacrifício mais agradável a Deus...

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