quarta-feira, 1 de abril de 2009

Encontro marcado

Jak sempre me alertou para ter muito cuidado com os meus desejos. “Porque eles podem acontecer!”, afirmava enfática e categoricamente, como se já tivesse sido “vítima” dos próprios anseios. Mas confesso que nunca botei muita fé nessa história, que, ao contrário, sempre me fez dar boas gargalhadas.

Não sei bem por que me lembrei disso agora, afinal, faz tempo que não a vejo: a vida nos levou por caminhos distintos, embora o carinho fraternal, que sempre deu o tom da nossa amizade, ainda permaneça. Quando nos conhecemos, na década de 90, percebi rapidinho que se tratava de um “reencontro”. Havia sempre muita urgência de conversar, como se tivéssemos deixado algo por ser dito na última vez...

Paradoxalmente, para nós, “a última vez” poderia ter sido alguns minutos atrás ou no dia anterior; na semana passada ou no último mês; há alguns anos ou na última encarnação... Sempre que nos víamos, os nossos olhos brilhavam de alegria e, em uníssono, gritávamos: “Preciso falar contigo!”

Mas, quando parávamos para ouvir o que a outra tinha a dizer, logo percebíamos que não passava de uma tolice qualquer, na maioria das vezes. Talvez fosse apenas a urgência de estarmos juntas novamente, o que tanto nos inquietava... Sei lá! Mas o que me fez lembrar dela hoje foi o fato inusitado que me ocorreu outro dia...

Às vezes, quando estou muito cansada, fico imaginando como seria bom se pudesse me desligar um pouco dos compromissos diários e sair a conhecer lugares e encontrar pessoas queridas. Como gosto da natureza, talvez não precisasse ir muito longe para recarregar as baterias e uma viagem ao interior fosse até mais proveitosa do que uma exaustiva programação em um grande centro comercial.

Enfim! O fato é que eu estava voltando para casa numa noite dessas, quando recebi uma ligação muito esquisita pelo celular: “Não esqueça do nosso encontro!”, falou-me uma voz masculina, que não era nem estranha nem conhecida. “Prepare-se para a viagem!”. E desligou antes mesmo que eu pudesse perguntar de quem se tratava. Assustada, rumei para casa o mais depressa possível, fechando as portas com trancas e ferrolhos.

Tomei um banho quente, escovei os dentes e, estranhamente, preferi vestir um jeans com camiseta ao invés da camisola. Ansiosa demais para dormir, calcei o tênis (Mas pra que tênis, meu Deus?) e fiquei algum tempo à janela da sala, apoiada no parapeito, olhando o céu. Foi, então, que tudo aconteceu!

Não sei se pelo brilho ou pelo tamanho, uma estrela cintilante me chamou a atenção. Numa velocidade que não era rápida nem devagar, assumindo um tamanho cada vez maior, a estrela parecia estar vindo em minha direção. Com o coração aos saltos, eu quis fechar a janela e correr dali. Pensei em chamar as meninas, mas uma força maior me impediu de qualquer reação.

De repente escutei aquela voz de novo. Era suave e firme como um pensamento, doce e saudosa como uma lembrança, e as palavras vinham à minha mente de uma forma que eu não conseguia impedir. Um turbilhão de sentimentos tomou conta de mim. Não sei se sorria ou chorava... Desmaiei.

Quando recobrei os sentidos, percebi que quatro horas haviam se passado. Eu estava deitada, usava a mesma roupa, mas os tênis jaziam emparelhados ao lado da cama. Na mão direita, um pequeno bilhete onde estava escrito: “Volte logo!”. Uma confusão mental tomou conta de mim: um misto de saudade, lembranças fugidias e aquela voz...

Bom, agora tu vais me dar licença por que eu vou dar uma paradinha para o café! Quanto à história que acabei de contar, neste primeiro de abril, deixo à tua imaginação a inteira responsabilidade do seu desfecho. Mas cuidado! Porque, hoje, tudo pode acontecer...

3 comentários:

Lula Castello Branco disse...

Companheira, né que é mesmo. "Veja lá o que Vc vai pedir a Deus", como diz o ditado. Tenho uma lembrança de minha infância de uma garotinha linda nos braços da mãe na casa de uma tia minha (e tia dela também). Lembro bem que quando vi aquela garotinha senti o meu coração querer explodir... - Meu Deus, ela é linda ! - E assim a pedi a Deus... Anos e anos depois revendo fotos descobri que aquela garota é minha esposa hoje. rsss...

Mariana disse...

Yvette,

Gosto muito da forma como você escreve, é delicada, suave e intensa.
E não posso deixar de falar da imagem da paz. Belíssima.

Grande abraço.

Yvette Maria Moura. disse...

Mariana,
ter vc como leitora é um enorme prazer.
primeiro pq é sensível e inteligente o suficiente para se permitir olhar o mundo com delicadeza; segundo, pq é mãe de Sofia e tem feito o meu amigo muito feliz.

quanto a vc, Lula, obrigada pela belíssima história que compartilhou conosco. seus comentários sempre enriquecem os meus textos!

um beijo aos dois queridos e ilustres leitores. tomara que mais vezes!