quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Quem quer ser um milionário?

Parece clichê o que eu vou escrever aqui, mas estou convencida de que o amor é o único sentimento capaz de salvar a criatura humana, mesmo quando todos os indícios levem a crer que ela não passa de um caso perdido...

Pode-se nascer na miséria e sofrer toda sorte de injúrias e agressões sem que, necessariamente, se venha a lançar mão desses recursos para forjar um caráter forte o suficiente para enfrentar o mundo e se impor diante dos outros. Mas, mesmo que a máscara seja usada por algum tempo, mantê-la até as últimas consequências é antes uma escolha do que uma fatalidade...

Ninguém nasce para ser malfeitor! Também não há os filhos diletos da sorte. As pessoas fazem as suas escolhas, aceitam ou rejeitam o que a vida lhes oferece e são convidadas a arcar com as consequências das próprias decisões, inexoravelmente.

Mocinho ou bandido, cada um escolhe o seu papel. Há os que se esforçam para fazer tudo certinho, embora não recebam recompensa por isso, e os que sempre preferem os atalhos, visando às conquistas fáceis e imediatas. Mas tanto uns quanto outros, indubitavelmente, vão tecer o próprio destino nas tramas do cotidiano; pintar a realidade futura com as cores do presente.

Mas o amor, ah, o amor... Só ele nos protege de nós mesmos. Só ele livra a alma dos perigos constantes. Só ele salva o homem dos erros e dos vícios, do desequilíbrio e da queda moral aos quais está propenso. Só ele tem a força de perpetuar em nós a essência divina.

Não falo do amor egoísta, que ansiamos tanto receber do outro. Não falo das carências que cultivamos, buscando satisfação nas paixões carnais. Não falo de dependência emocional...

Eu falo do amor que construímos no silêncio das nossas preces, na beleza dos gestos mais singelos, na coragem das nossas maiores renúncias. Falo do amor que não cansa de querer o bem do outro: o amor que cuida, o amor que confia, o amor que aceita até o que parece ser inaceitável...

Falo do amor que não desiste nunca, como o que se pode assistir no fabuloso longa-metragem “Quem quer ser um milionário?” (Slumdog Millionaire), de Danny Boyle, ganhador do Oscar de Melhor Filme desse ano, além de outras sete categorias do prêmio máximo do cinema norteamericano, e de quatro Globos de Ouro 2009.

Baseado no romance de estreia do diplomata indiano Vikas Swarup, o filme conta a história de um menino órfão, de uma favela de Mumbai, que surpreendeu todo mundo vencendo a versão indiana do programa “Show do Milhão”, e ganhou o prêmio de 20 milhões de Rúpias a partir das lembranças da sua trajetória de criança pobre, numa sociedade onde a opulência e a miséria, o misticismo e a criminalidade convivem lado a lado, quase que harmoniosamente.

Preso e torturado por suspeita de fraude, o rapaz, que era semianalfabeto, conta por que se inscreveu no programa e relata a impressionante história da sua vida, revelando que o dinheiro não era a sua maior ambição...

O que salvou o jovem de 18 anos, que trabalhava servindo chá num Call Center, e evitou que ele enveredasse pelo mundo do crime, como o seu irmão Salim, foi o amor que nutria pela amiga de infância Latika – uma menina igualmente pobre e órfã, de quem Jamal nunca esqueceu.

O amor que guardara dentro do peito e o sonho de vivê-lo um dia foram os sentimentos que fizeram o protagonista do filme escolher o lado limpo da vida, apesar de todas as humilhações que sofreu...

Mas lembrando que a arte também imita a vida, eu me pergunto: quantos Jamal não existem por aí, vencendo o mundo e a si mesmos motivados pelo amor que cultivam por alguém ou por alguma causa especial? Quantas personalidades luminosas não foram esculpidas no anonimato de ações amorosas, a partir de histórias de dor e de renúncia? Quantos de nós não estamos em busca de um amor maior? Quantos não se sagram milionários no anonimato?

3 comentários:

jacqueline disse...

belíssimo!

Paulo Dionísio disse...

Muito bom. Adorei. Virei aqui mais vezes. E contiemos com as frases com as frases clichês.
Beijos.

Yvette Maria Moura. disse...

sim, sim.
porque, dentro do contexto, toda palavra tem algo a acrescentar, não é mesmo?
um beijo pra vcs, queridos.
e não se esqueçam de voltar! rsss...