Não sei se durma ou se escreva a essa hora do dia, em que o cansaço me toma o corpo cobrando mais cuidado com o instrumento físico. Mas de uma coisa estou certa: a essa hora, em algum lugar, alguém espera ansioso por esta missiva e, para si, não tem a menor importância se era noite ou dia quando iniciei este escrito; se fazia frio ou calor; se estava triste ou feliz; se senti mal ou bem-estar durante a tessitura do texto. O fato é que eu preciso tanto escrever quanto aquele ler, portanto...
Tomo um gole de café para espantar as sombras do cansaço e me acomodo à mesa, buscando a leveza de novas ideias e a fluidez de pensamentos recém-nascidos. Busco a mim mesma, com coerência e poesia, e assim me recrio para vos oferecer o que tenho de melhor.
Mas há um não-sei-quê que incomoda e inquieta, pedindo para ser revelado. Há algo que reclama o respeito que lhe é devido e o direito de se expressar. Então, vou deixar as histórias pessoais para outra ocasião e vou me fazer porta-voz de um apelo coletivo: o grito de quem foi agredido no que tem de mais sagrado: a expressão da fé. Falo pelos ‘Seu’ Antônio, José, Alberto, e as ‘Dona’ Maria, Joaninha, Josefa: essa gente genuinamente brasileira, a quem devemos respeito e consideração.
Na semana passada, um terreiro de umbanda foi invadido pela Polícia Militar de Alagoas após uma denúncia anônima em defesa da “ordem”, e o atabaque do babalorixá que conduzia o culto de origem africana foi levado pelos militares, que só o devolveram alguns dias depois, após o pagamento de R$ 100,00. A casa em questão, vale ressaltar, não passa de um cubículo de dois cômodos, que funciona como templo religioso apenas uma vez por semana e tem autorização judicial para exercer as suas atividades ali, no populoso Jacintinho.
Ao contrário da versão dos policiais, a vizinhança não se declarou incomodada com o ritual afrobrasileiro de “Seu” Antônio, mas sim com a falta de policiamento e de segurança pública no local. Estranhamente, ao ser procurado pela Comissão de Minorias da OAB e por entidades umbandistas de Maceió, o secretário de Defesa Social do Estado, Paulo Rubim, se mostrou igualmente intolerante, abandonando a reunião antes do seu término sob a alegação de que tinha “muita coisa pra fazer e muito bandido pra prender” e ressaltando que as pessoas têm os seus direitos e que a lei deve ser cumprida sempre que isso for solicitado.
Com essa atitude infeliz, além de menosprezar a Constituição Brasileira – que dá a todos os filhos deste País o direito de expressar a sua fé como bem entenderem –, o secretário demonstrou sua total ignorância em relação aos elementos que compõem e tornam rica a nossa cultura.
Justo no ano em que se comemora a presença francesa no Brasil – como, em 2008, se festejou o centenário dos japoneses em nossas terras –, a sociedade assiste calada à truculência e à intolerância contra os descendentes daqueles que, de fato, construíram esta nação – com o suor de seus corpos e de suas lágrimas, no trabalho escravo e numa vida sub-humana.
Será que as comunidades alemãs do sul do País, das quais, provavelmente, o secretário descende, contribuíram mais com a formação do povo brasileiro do que os africanos, que para cá foram trazidos sob a ação do ferro e do chicote, engrossando, com os índios e europeus dos primeiros tempos, o sangue multirracial que corre em nossas veias?
O que essas entidades reclamam, hoje, não é mais do que o direito de cultivar a única coisa que não foi extirpada dos seus ancestrais: a sua fé religiosa. Portanto, o mínimo que o Estado deveria fazer por essa gente era exigir que os seus servidores, juntamente com os dirigentes das pastas, voltem às aulas de História do Brasil.
Tomo um gole de café para espantar as sombras do cansaço e me acomodo à mesa, buscando a leveza de novas ideias e a fluidez de pensamentos recém-nascidos. Busco a mim mesma, com coerência e poesia, e assim me recrio para vos oferecer o que tenho de melhor.
Mas há um não-sei-quê que incomoda e inquieta, pedindo para ser revelado. Há algo que reclama o respeito que lhe é devido e o direito de se expressar. Então, vou deixar as histórias pessoais para outra ocasião e vou me fazer porta-voz de um apelo coletivo: o grito de quem foi agredido no que tem de mais sagrado: a expressão da fé. Falo pelos ‘Seu’ Antônio, José, Alberto, e as ‘Dona’ Maria, Joaninha, Josefa: essa gente genuinamente brasileira, a quem devemos respeito e consideração.
Na semana passada, um terreiro de umbanda foi invadido pela Polícia Militar de Alagoas após uma denúncia anônima em defesa da “ordem”, e o atabaque do babalorixá que conduzia o culto de origem africana foi levado pelos militares, que só o devolveram alguns dias depois, após o pagamento de R$ 100,00. A casa em questão, vale ressaltar, não passa de um cubículo de dois cômodos, que funciona como templo religioso apenas uma vez por semana e tem autorização judicial para exercer as suas atividades ali, no populoso Jacintinho.
Ao contrário da versão dos policiais, a vizinhança não se declarou incomodada com o ritual afrobrasileiro de “Seu” Antônio, mas sim com a falta de policiamento e de segurança pública no local. Estranhamente, ao ser procurado pela Comissão de Minorias da OAB e por entidades umbandistas de Maceió, o secretário de Defesa Social do Estado, Paulo Rubim, se mostrou igualmente intolerante, abandonando a reunião antes do seu término sob a alegação de que tinha “muita coisa pra fazer e muito bandido pra prender” e ressaltando que as pessoas têm os seus direitos e que a lei deve ser cumprida sempre que isso for solicitado.
Com essa atitude infeliz, além de menosprezar a Constituição Brasileira – que dá a todos os filhos deste País o direito de expressar a sua fé como bem entenderem –, o secretário demonstrou sua total ignorância em relação aos elementos que compõem e tornam rica a nossa cultura.
Justo no ano em que se comemora a presença francesa no Brasil – como, em 2008, se festejou o centenário dos japoneses em nossas terras –, a sociedade assiste calada à truculência e à intolerância contra os descendentes daqueles que, de fato, construíram esta nação – com o suor de seus corpos e de suas lágrimas, no trabalho escravo e numa vida sub-humana.
Será que as comunidades alemãs do sul do País, das quais, provavelmente, o secretário descende, contribuíram mais com a formação do povo brasileiro do que os africanos, que para cá foram trazidos sob a ação do ferro e do chicote, engrossando, com os índios e europeus dos primeiros tempos, o sangue multirracial que corre em nossas veias?
O que essas entidades reclamam, hoje, não é mais do que o direito de cultivar a única coisa que não foi extirpada dos seus ancestrais: a sua fé religiosa. Portanto, o mínimo que o Estado deveria fazer por essa gente era exigir que os seus servidores, juntamente com os dirigentes das pastas, voltem às aulas de História do Brasil.
2 comentários:
Brava gente brasileira e bravo texto!!! Qualquer um de nós tem o direito, inviolável, de concordar ou não com qualquer que seja a seita, a religião, a cultura ou os costumes de um povo ou sociedade, mas absolutamente isento de preconceito. A fé, a crença é um dos maiores direitos e dádivas de nós, humanos, inquestionável. Este texto não é uma forma de apoio ou de crítica a quem quer que seja, mas sim um entendimento claro de que o preconceito não deveria fazer parte dos sentimentos humanos em nenhuma circunstância, ainda mais em relação à fé. Por motivos editoriais, as páginas de O JORNAL e seus leitores se privaram de se deleitar com um escrito tão oportuno. Mas outros virão para o consolo dos seus fiéis seguidores!!!!!
Deus a abençoe sempre, minha amiga
Amo tu mamiiiis!
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