sábado, 19 de dezembro de 2009

Arte de amar...

Não fui eu, mas Manoel Bandeira, que teve a coragem de olhar para dentro de si mesmo e de se esgueirar pelas frestas dos labirintos alheios para ler o que parecia ser apenas uma acomodação dos seguidores do Inolvidável Nazareno, nascido nas terras poeirentas da Judéia, por esta época do ano, há mais de dois milênios. “Se queres sentir a felicidade de amar” – disse o grande poeta pernambucano, vaticinando o que viria a ser uma das maiores frustrações humanas –, “esquece a tua alma”.

Visionário, o poeta também decifrou, aí, o enigma de quantos já se debruçaram, aos prantos, sobre o leito de morte das paixões mundanas e nos altares erguidos para exaltação das ilusões passageiras, porque haviam depositado, ali, os seus maiores investimentos e os anseios mais secretos do seu coração: “A alma é que estraga o amor”.

Em sua leitura – que eu não sei exatamente sob que aspectos foi realizada –, Bandeira estabelece que só em Deus a alma humana pode encontrar satisfação plena; não noutra alma ou neste mundo de fantasias e desejos vãos criados pelo egoísmo.

Nesse aspecto, concordo totalmente com ele: “as almas são incomunicáveis”. Hoje, como ontem, os corpos se encontram e se entregam, voluptuosos; trocam-se os suores, os cheiros; compartilham-se os tremores da carne; soltam-se grunhidos; promessas de eternidade são feitas sob o calor do momento... Mas do mesmo jeito que se abraçam, os seres se apartam: intangíveis e solitários. “Porque os corpos se entendem – como conclui o poeta; adaptam-se –, mas as almas não”.

E, embora pareça bonita no poema de Bandeira, na prática essa realidade é triste, porque denota o quanto o homem ainda está distante da sua verdadeira essência. Usando-nos uns aos outros como simples objetos de satisfação temporária – espelhos distorcidos da nossa própria imagem de doentes da alma – perdemos excelentes oportunidades de conhecer o amor, que leva à plenitude.

Ressabiados pelas frustrações vividas – que vão se somando com o passar dos anos –, comemos pelas beiradas, no prato das relações sociais, furtando-nos à experiência do banquete do abraço. Preferimos a superficialidade das amizades, dos relacionamentos a dois, da solidariedade. Esquecemo-nos que o amor nos torna responsáveis por aqueles que cativamos; às vezes, irresponsavelmente. Esquecemo-nos que amar significa aceitar o outro como ele é, sem projetar nele os nossos ideais ou as nossas frustrações.

A arte de amar requer o exercício diário do reconhecimento do outro e a manutenção incansável do diálogo e do entendimento mútuo. Pois, inconstantes que somos, carentes e melindrosos em demasia, basta uma pequena desatenção, uma indelicadeza qualquer, como diz Chico Buarque, e pode ser a gota d’água.

Quantos professavam amor eterno, amizade inabalável, prazer em ajudar o próximo, afeição incondicional, mas se perderam na vivência diária! Num momento de irritação, num instante de desagrado ou insatisfação pessoal, ante a ingratidão, tudo o que juravam se desfez e ficou para trás...

Hoje, como em todos os tempos, os ensinos do Nazareno são quesitos imprescindíveis para a nossa vida prática. A começar pela conscientização dos laços que nos unem ao verdadeiro Pai da Vida. Como respondeu uma amiga minha, ao ouvir seu filho adolescente debochar do tal “amigo imaginário” a quem ela se apegava tanto, no seu cotidiano, e com quem estabelecia silenciosa conversação diária...

- Você trabalha tanto e ganha tão pouco; vive num sufoco danado e está sempre cheia de preocupação... Por que não fala com ele? Reclame com ele, minha filha! Você não diz que ele é seu amigo?

- Pra você ver! – falou a mãe, esgotando os argumentos do filho com a sua serenidade. Se com Ele é essa turbulência toda, imagina se eu não O tivesse na minha vida.

3 comentários:

lis disse...

Oi Maria
Passando pra deixar o meu abraço e desejar que seu Natal e de seus familiares seja de alegria, de comunhão e amor.
E ,que a arte de amar seja de acordo com o que nos ensinou o Nazereno: "amai-vos uns aos outros assim com eu vos amei!
Um Ano Novo de muitos planos e muita realização.
meus abrçs

Yvette Maria Moura. disse...

obrigada, querida.

que as bençãos do Menino Jesus perdurem pelos próximos dias do ano vindouro em nossas vidas
e que nós nos esforcemos para reviver, em cada um desses dias, as venturas do espírito natalino.

um abraço fraterno e votos de muita paz, amor e produtividade em 2010!

MM.

Thalita Cunha disse...

Muito boa crônica!!!! Concordo com Bandeira e concordo com vc!!! Grande abraço!!!!