quarta-feira, 5 de maio de 2010

Lições da telinha

Estava passeando pela internet, procurando algo que me servisse de inspiração para escrever este artigo, quando me deparei com o blog Sonhos de Luciana, da personagem vivida por Aline Moraes na novela de Manoel Carlos. Uma atriz belíssima que há muito vem se destacando, justiça seja feita, por colocar o seu rostinho bonito em segundo plano e trabalhar firme na construção da personagem.

Apesar de os momentos mais dramáticos de Luciana já terem passado, a atriz vem crescendo dia após dia na interpretação da modelo que ficou tetraplégica em um acidente automobilístico e mudou da água para o vinho a partir das limitações do corpo.

Com a ajuda dos parentes e dos amigos, em especial do neurocirurgião Miguel – que de cunhado passou a seu futuro marido –, a trajetória dessa personagem (que, para mim, é a melhor da trama) tem dado voz a uma série de testemunhos de superação. Mas outra questão, não menos importante, tem sido levantada por ela desde que sofreu o acidente e passou a ser vista pela sogra como uma pessoa inadequada para esposar os seus filhos.

Com o tempo, o telespectador vai percebendo que, na verdade, Ingrid é uma mulher de personalidade doentia. O problema não está na deficiência física de Luciana ou nos problemas outros que as suas noras possam apresentar, mas na sua possessividade e na maneira controladora com que comanda a família.

Na sua concepção deturpada, nenhuma moça é boa o suficiente para se casar com os seus “meninos” – já bem crescidos, diga-se de passagem, independentes e donos do seu nariz. De tudo a sogra faz para envenenar a cabeça dos filhos contra as namoradas e, quando não consegue lograr êxito no seu intento egoístico, investe sobre as indesejadas noras sem dó nem piedade. Nesses encontros, Ingrid destila todo o seu veneno sobre as moças sem se preocupar com as consequências desse ato. “Eu posso tudo!”, afirma. Mesmo que, para impor a sua vontade, ela ponha em risco a felicidade dos meninos.

Mais uma vez, a arte imita a vida na telinha, pois, da mesma forma que os depoimentos de superação começaram a surgir depois do acidente de Luciana, as agressões e os maus-tratos – morais e psicológicos – sofridos pelas noras da vida real também tem aparecido.

Muitas Ingrids existem por aí, destilando o seu veneno e competindo o amor do filho com a nora, seja a relação deles de namoro, noivado ou casamento. São criaturas que, na verdade, apenas expõem a personalidade voluntariosa e egoísta que têm quando se sentem ameaçadas de perder o controle sobre os seus. Disfarçados de “cuidados maternais”, esses sentimentos denotam uma criatura controladora e cheia de caprichos e sortilégios. O amor materno passa longe…

Afinal, já está comprovado que o amor que mais se aproxima do amor divino, na terra, é o amor de mãe. Ele é desprendido e se impõe a um maior número de sacrifícios do que qualquer outro. É aquele que se esquece de si pela felicidade alheia; que perde noites de sono, sofre humilhações, enfrenta os maiores obstáculos e as situações mais vexatórias para fazer o filho feliz.

Não é à toa que o poeta afirma que “ser mãe é padecer no paraíso”. A maternidade responsável, consciente do papel educador que lhe cabe, ensina os filhos a cumprirem os seus deveres: primeiro para com o Criador, segundo para com o próximo e terceiro para consigo mesmo. Atingida a maioridade, cada um deverá andar com os próprios pés.

Igual à águia quando ensina as suas crias a se emanciparem. Contam os estudiosos que, percebendo que o filhote está pronto para voar, a mamãe águia leva-o até o ponto mais alto do penhasco e o empurra com o bico até colocá-lo em queda livre. Quando um, mais medroso, não abre as suas asas e cai, a águia dá um vôo rasante livrando-o da morte. E, de novo, o conduz ao despenhadeiro, empurrando-o com o bico mais uma vez.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito gratificante sabermos que ainda existem pessoas que no auge de sua plenitude e experiências vividas pelo tempo nos traga uma informação tão preciosa como a que nos é relatada. Suas nuaces literárias ,ou seja,uma mistura de ditos populares com sua interpretação peculiar é sem dúvida de uma criatividade magnifica!
Parabéns querida! Continue sempre assim,bela em suas poesias , sem no entanto esquecer de incluir pensamentos não seus , que termina por nos trazer uma ideia exata das questões atuais e nos mostrar que a humildade deve caminhar sempre em comunhão de pensamentos com a intelectualidade.

Yzis Burlansk.