segunda-feira, 28 de junho de 2010

A didática da dor

(foto: Yvette Moura)
Porque tenha aprendido a enxergar a poesia da vida em tudo, até a dor e as catástrofes me levam a crer na didática divina nos convidando a crescer. Mas, como diz o grande poeta mineiro, Carlos Drumond de Andrade, se a dor é obrigatória, o sofrimento é opcional. A forma como encaramos a dinâmica da vida, portanto, com seus altos e baixos, é que é determinante no aproveitamento das lições.

Sendo assim, e fazendo um linking com o que acontece na vida de todos os seres humanos, desde que o mundo é mundo, as últimas ocorrências nas cidades atingidas pela cheia em Pernambuco e Alagoas também me fazem lembrar de Cecília Meireles no poema “Canção”. Vejamos:

“Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.”

Nenhum comentário: