quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Sobre as dores e o sofrimento

(foto: Yvette Moura)

Às vezes doi a cabeça, às vezes as pernas, os braços, os ombros, a nuca, a região lombar. Também sinto dores de estômago, e o fígado incomoda; e os rins, o intestino, os dedos, a batata da perna, a planta dos pés, igualmente reclamam. Também me doi a garganta, as amígdalas e os dentes, quando estão inflamados; assim como os pulmões e os brônquios, que provocam cansaço. Às vezes até o coração bate descompassado, e os olhos não enxergam como deveriam.

Mergulhados na carne para intenso aprendizado, todos estamos sujeitos à reprimenda dos órgãos ante os nossos excessos, desequilíbrios e maus-tratos. Diante do sofrimento, percebe-se o erro... Acometidos de um mal, reclamamos, gememos, sofremos, mas acabamos, cedo ou tarde, aprendendo com ele.

Percalços de jornada ante as fragilidades do organismo físico, nenhuma castiga mais, no entanto, do que as dores morais: o peso na consciência, a angústia da expectativa, o corrosivo ciúme, a inveja que enlouquece, o perigoso medo...

Para aquelas, os analgésicos, unguentos, antiácidos, as pomadas. Em conta-gotas, comprimidos, substâncias líquidas ou pastosas, pastilhas dissolventes, o alívio é questão de tempo. Para essas, as ações corretas, o “voltar atrás”, o “aqui e agora”; o crédito de confiança, a aceitação da realidade, a fé em Deus...

Do corpo ou da alma, o melhor para as dores é a profilaxia, embora cada mal gere um remédio, um aprendizado, uma proposta de cura. Mas bom mesmo é encarar “de frente” o novo desafio, e aproveitar o ensinamento que a situação dolorosa oferece.

Sem mascaramento ou subterfúgios, as dores físicas propõem cuidados específicos, mudanças de atitude, hábitos novos, tratamento e acompanhamento de especialistas. Encarados com seriedade, os males morais denunciam desvios de conduta, fragilidades de caráter, tendências perigosas. A ajuda profissional pode ajudar, o acompanhamento psicológico também, assim como o diálogo dos pais e as terapias alternativas. Mas a cura só se estabelece de verdade com a conscientização dos envolvidos e a transformação interior. Sem um desejo sincero de melhoria íntima, tudo mais é paliativo.

Pois a paz de espírito não se ganha de presente nem está à venda. A felicidade é uma conquista íntima – silenciosa construção de cada criatura. Pode inexistir numa mansão luxuosa, e ser encontrada entre os moradores de um obscuro casebre de periferia. Tanto uma quanto a outra estão mais relacionadas com as escolhas e ações pessoais do que com a conta bancária ou posição social do indivíduo; refletem a prática mais do que o discurso...

Diante disso, sentir dor é uma condição humana da qual não se pode eximir, mas o sofrimento pode ser considerado uma opção pessoal. Melhor dizendo, uma diz respeito ao corpo e os seus efeitos; o outro tem a sua gênese nas ações do indivíduo, que sempre é convidado a escolher entre fazer o mal ou o bem; permanecer no erro ou tentar acertar; contrair débitos ou quitá-los; aprisionar-se ou se libertar.

Por mais difícil que a realidade possa parecer, as nossas escolhas são maiores do que o meio em que estamos inseridos, e o improvável pode sempre surgir de onde menos se espera. Não fosse assim, só existiria deliquente nas favelas, e os abastados seriam todos bons. Mas a gente sabe que, na prática, não é bem assim...

Seja como for, vale ficar atento e observar a si mesmo. De vez em quando, é bom se olhar no espelho e inquirir: - O que estás fazendo? No intervalo, estuda o Cristo, e exercita a moral e a Ética, porque o mal é filho da ignorância.

Um comentário:

Anônimo disse...

É instrutivo, tranquilizador, sempre proveitoso passar por aqui. Irretocável, Mokinha. Bjo.

S.