sábado, 1 de outubro de 2011

Sol do meio dia

“Quem perdeu foi quem morreu!” – diz o populacho diante de um sinistro provocado, direta ou indiretamente, pela ação de terceiros. Com esta frase, está reproduzindo pura e simplesmente a filosofia materialista, que atribui o fim da vida à morte do corpo físico, ainda tão presente no inconsciente coletivo da nossa sociedade.

Com valores invertidos, e mais voltadas para o “ter” do que para o “ser”, as pessoas lamentam a morte como se ela fosse um castigo cruel para os ímpios ou uma perda irreparável para aquele que a vivencia “inocentemente”, preferindo muitas vezes ver o seu ente querido levando uma vida vegetativa ao seu lado do que ser “colhido” pela tal “Senhora do Destino”.

Opção que denota mais desconhecimento sobre a vida e a morte do que propriamente uma afeição verdadeira e genuína.

Com o paradigma da imortalidade da alma – que há décadas vem sendo estudada e amplamente comprovada pela ciência (leia-se Brian Weiss, Elizabeth Kübler-Ross, Ian Stevenson, Hemendra Nath Banerjee, Hernani Guimarães Andrade, entre outros) –, essa crença precisa ser modificada o quanto antes se quisermos avançar moralmente.

Como crianças voluntariosas, preferimos cultivar fantasias e quimeras a enxergar a realidade que se descortina diante dos nossos olhos indistintamente. Levamos a existência por caminhos duvidosos, gastando o nosso precioso tempo dando voltas e voltas em torno de questões tão simples quanto naturais, que insistimos em não ver.

Preferimos as ilusões. Talvez porque seja mais cômodo permanecer “inocentes” do que assumir responsabilidades que a nossa fraqueza moral pode não dar conta. É preferível acreditar no fim de tudo a controlar os impulsos, educar os sentimentos e reconhecer os próprios erros.

Domar a ira, ter compaixão e voltar atrás parecem atitudes difíceis demais para alguns de nós, egocêntricos, egoístas e excessivamente vaidosos.

Mudar para que, se a qualquer momento tudo pode se acabar, e o que somos se perderá no tempo das lembranças e das saudades dos que ficam, que, um dia, também terão fim? Por isso, os suicídios, os assassinatos passionais, os latrocínios, fazendo da vida um bem perecível e menos importante do que as nossas urgências e aparentes necessidades.

Assim, a criança atira contra a professora e, em seguida, se mata, nas escadas do próprio colégio, por um motivo banal;

a namorada se joga da varanda ante a infeliz ameaça do fim do seu relacionamento; o jogador dá sumiço na amante para não ceder as suas chantagens;

o ex-namorado invade a casa da “amada”, armado, e faz refém toda uma nação – que acompanha avidamente pelos canais de televisão o total descontrole emocional do rapaz, até o desfecho fatal;

e homens e mulheres se entregam a toda sorte de desequilíbrios e baixezas morais por não terem coragem de enfrentar as próprias frustrações com equilíbrio e dignidade...

Como acabar por aí, numa única oportunidade? Como desistir dos que criou com tanto alegria? Se nós não desistimos dos nossos, Deus também não o faz. Como o sol do meio dia, é chegado o tempo de enxergarmos mais.

Um comentário:

Fernando Caldas disse...

Eu sempre te disse o quanto a tua verve de escritora e jornalista faz bem a quem te lê. pois é quierida amiga. DEUS conserve essa disposição e que a vida sempre te inspire nos retratos do cotidiano, para que continue a nos brindar com textos tão cativantes. Sou teu irmãp e teu fâ. Fernando Caldas.