terça-feira, 13 de junho de 2006

Duas palavras

Chove forte agora. E só então me dou conta que nunca mais te escrevi...
Sabe, João, ainda ecoam em mim as palavras doces com que me acordaste aquela manhã. Nem sei como pudemos ficar distantes tanto tempo. Como pudemos fechar os olhos sem ter o sorriso um do outro, sem ter o braço amigo para deitar a cabeça ao final do dia, nem sei...
Está tudo tão diferente. E não fomos nós apenas que envelhecemos, percebe? Hoje o mundo me parece caduco, mesmo diante de tanta modernidade. Mesmo assim.
O movimento das pessoas parece decair ao invés de ascender. Embora nós dois saibamos que não é mesmo assim. Embora sintamos as transformações silenciosas acontecendo em nós mesmos e ao nosso redor.
Muita coisa mudou, é verdade, mas eu preciso te dizer, meu amado, que não há beijo ou afago que se compare ao teu. Que acordei chorando a última vez que dormimos juntos. Quando apenas duas palavras saíram da tua boca... Ah, a tua boca...
Foram duas palavras somente que saíram de ti, como um desabafo. Como um sopro aliviado de quem chega muito cansado ao pouso e joga o corpo exausto sobre a rede... Sobre o tapete da sala... Sobre a cama larga...
Ah, o teu corpo...
Este é o outro ponto que eu precisava ressaltar. Mas as tuas palavras ainda arrancam lágrimas de dentro de mim... Como a chuva. E eu não sei se poderia te dizer alguma outra coisa que não fosse esse soluço engasgado que prenuncia o choro. Algo como um gemido da alma, repetindo, talvez, as duas únicas palavras que tua boca pronunciou, corpo entregue ao meu, naquela manhã que acordaste em meus braços...
'meu amor'.

Um comentário:

Everson Belo disse...

Muito bonita a história, daria um bom livro. Quando lemos conseguimos imaginar detalhe por detalhe, tamnha é a qualidade da descrição. Muito bom mesmo!!!

Ah! Texto Novo! Lê lá e comenta tbm ;)