terça-feira, 24 de abril de 2007

Só hoje... (ou Das maravilhas de Deus)

Ao escrever esta crônica, peço licença para fazer aqui o meu protesto, desejando, sinceramente, que me compreendam. Porque escrevo numa segunda-feira chuvosa e cinza e sinto uma imensa necessidade de expressar os sentimentos que me vêm no íntimo...

Só hoje, apenas hoje, porque amanheceu um céu nublado e tudo parece escorrer lá fora, como pingos na minha janela; só porque os barulhos urbanos foram todos abafados pela musicalidade desse temporal; só porque está escuro e as luzes do vizinho já estão acesas, é que preciso dizer o que sinto.

Só porque, daqui, vejo as plantas se esgueirando para fora da janela, é que sinto um desejo louco, quase um remorso, de tê-las plantado em terra firme para que pudessem agora se misturar à natureza em festa, como eu, e sentir a chuva lhes gotejar na face, abrindo a folhagem num largo sorriso.

Eu, que não posso ouvir um trovão sequer sem tremer por dentro, num temor reverencial. Eu, que não perco a oportunidade de me banhar na chuva, como uma criança que vislumbra feliz a toalha quentinha que virá depois, com o abraço da mãe. Eu, que necessito da água – embora seja regida pelo elemento Terra – para me sentir plena e completamente inserida na grande obra de Deus...

Eu, que habito as cidades há muito tempo, mas trago o campo dentro de mim, impregnado em cada ínfima célula, cada partícula mínima que me compõe o Ser...

Eu, que ousaria até pedir a Deus que, quando for chegada a hora de partir deste mundo, permita – para pura comodidade daqueles que me venham dizer adeus – seja de sol, suave e luminoso, o dia do meu funeral. Mas passado o momento solene e triste, todos já em casa, faça cair uma chuvinha melancólica e fina durante a noite, silenciosa como uma oração.

Ou então, guarde as pessoas em casa na manhã seguinte, sob o céu cinzento e espetaculoso de um temporal, para que todos saibam, que tenham a mais absoluta certeza, de que parti feliz.

E não terá sido uma despedida dolorosa e maçante a minha morte, mas uma transição apenas –como tudo na Natureza –, abençoada e permitida por Deus, que, aceitando os tolos caprichos da filha pródiga, terá preparado uma bela festa para comemorar o seu retorno à casa.

Eu, que não consigo ver cair um raio ou espocar um relâmpago que seja, sem entender nisso o grandioso espetáculo da vida, a maravilhosa engenharia de Deus funcionando em sua harmonia perfeita, quero deixar aqui a minha indignação.

Mas só quem me conhece na intimidade é que verdadeiramente sabe que em dias como este, tal qual as plantas e os minerais, eu me integro de uma forma tal à criação divina que choro a alegria plena de viver, como faz a chuva, ou me recolho para assistí-la, protegida e abrigada, como os animais.

Só os que compartilham das mesmas idéias e fluem com o mesmo espírito de liberdade, enfim, é que poderão compreender as palavras que serão ditas aqui: em um protesto tolo, talvez, infantil até, arrisco dizer, penso que é uma maldade sem tamanho ter que sair de casa em um dia como este.

Esses dias – que parecem nascer das lágrimas do Criador, numa explosão de alegria incontida, comemorando o nascimento de um Ser novinho em folha (acredito que o processo criativo do Pai é contínuo e permanente) –, merecem de nós uma reverência especial.

E é por isso que eu assisto assim, em êxtase – celebrando cada som dessa orquestração dos céus, cada efeito especial que compõe esse espetáculo da natureza –, com o pensamento contrito em Deus: agradecida.

E, como se observasse a própria felicidade sendo estendida aos homens da terra, num contentamento sem fim, eu agradeço profundamente pela oportunidade de começar a semana com um presente desses.

Um comentário:

Anônimo disse...

querida, lindddo...eu to cheios de cartas para publicar. MAs ta tudo tao louco...esuwqeci ate asenha..quando postar algo te conto